Coronavírus e seguro
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
A epidemia de coronavírus vai se espalhando. Já saiu da China, atingiu vários países vizinhos, desceu para a Austrália, entrou na Europa, chegou na América do Norte e segue em frente, sem muitos problemas para cruzar fronteiras.
Seu maior aliado é o próprio ser humano. Nem todas as pessoas infectadas apresentam os sintomas da doença e isso dificulta a sua identificação e, consequentemente, a tomada de medidas necessárias para isolá-lo.
A China isolou mais de setenta milhões de pessoas, em várias cidades que foram fechadas, mas não adiantou. Muitas haviam viajado antes das medidas serem implantadas e levaram o vírus para outras partes do país e depois para o mundo.
O coronavírus é uma nova cepa de um vírus já conhecido. Sua ação se dá no sistema respiratório, culminando em fortes pneumonias com alto índice de letalidade.
Com a confirmação da doença, incialmente na China e depois se espalhando pelo planeta, a Organização Mundial da Saúde se pôs a campo, mas avaliou mal a severidade do quadro e no início não tomou as medidas necessárias para fazer frente à epidemia e sua capacidade de expansão. Ao perceber a severidade do quadro, reavaliou sua posição e, depois de uma demora que não ficou clara, decidiu declarar emergência global.
Ainda é cedo para imaginar o tamanho dos estragos que efetivamente podem acontecer, mas falar em bilhões de dólares não é exagerado. As medidas de identificação da doença, os reforços em portos, aeroportos e fronteiras, o isolamento dos doentes, a pesquisa para encontrar os meios corretos de combater a expansão do vírus, os medicamentos para o tratamento da doença, os investimentos para a descoberta e produção de uma vacina eficaz dão suporte ao número acima.
Como acontece nessas ocasiões, tão logo se espalhou que a epidemia poderia ser mais séria do que inicialmente se imaginou, o medo se sobrepôs ao bom senso e a melhor prova disso foi a queda das bolsas de valores do mundo inteiro.
É certo que, além dos custos com a doença, deverão haver outras perdas, nos mais diversos campos empresariais. O turismo será afetado, as companhias aéreas deverão ver seus lucros reduzidos, setores ligados a elas deverão ter perdas e por aí vamos, para ficar no mais óbvio.
Entre os setores econômicos que podem sofrer perdas de vulto, a atividade seguradora aparece em destaque. Vários ramos podem ser severamente afetados, começando pelos seguros viagem e terminando nos seguros de vida.
Começando pelos seguros para viagens e turismo, a queda do movimento vai, evidentemente, reduzir a emissão das apólices e o faturamento das seguradoras. Mas não são só eles que podem gerar perdas não previstas. Os seguros de acidentes do trabalho, seguros educação, seguros de renda diária, etc., dependendo da severidade com que a epidemia se espalhará pelos diferentes países, poderão apresentar resultados completamente fora do esperado quando as apólices foram precificadas.
Mais delicada, todavia, é a situação dos planos de saúde privados. Num quadro como este será praticamente impossível as seguradoras se furtarem a arcar com os custos dos tratamentos. É verdade que boa parte das vítimas potenciais é moradora de nações pobres, ou seja, onde não há uma forte presença dos planos privados entre a população.
Também é verdade que o grosso da população da Europa tem a saúde custeada pelo governo. Mas países como os Estados Unidos e o Brasil, onde os planos de saúde privados têm peso no atendimento da saúde pública, se atingidos com severidade pela epidemia, podem acarretar prejuízos importantes para as operadoras dos planos.
Em quadros desta natureza, a pior coisa que existe é ficar parado, esperando as coisas acontecerem. Mais do que nunca, agora é a hora do Brasil se preparar para o pior. Se ele não vier, ótimo. Mas, se a epidemia chegar, é obrigação do Governo e das empresas privadas estarem preparados e com as medidas cabíveis implantadas. Depois do estrago, não adianta chorar o leite derramado.
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