Convergência
Originalmente publicado no jornal Sindseg SP
por Antonio Penteado Mendonça
A principal mensagem dos três grandes eventos do setor de seguros, acontecidos em outubro pode ser resumida numa única palavra: convergência.Convergência entre seguradores e corretores, entre seguradores e segurados, entre corretores e segurados e entre ressegurados e seguradores. Num processo de mão dupla, todos os envolvidos chegaram à conclusão de que é melhor somar do que subtrair. Melhor agregar do que brigar. E pelo andar da carruagem, isso deve se acentuar rapidamente.
O dado curioso é que a nota dissonante é dada pelo governo, tanto no nível direto da supervisão do setor, como em ações que resultaram na criação da Segurobrás.
O que os resultados do Congresso dos Corretores, a Conferência dos Seguradores e o Seminário dos grandes compradores de seguros mostram é a busca da cooperação mais harmoniosa possível, com todos os envolvidos dispostos a encontrar soluções que atendam o mercado, minimizando o contencioso entre as partes.
Existem dificuldades no meio do caminho? Sem dúvida. No meio do caminho ainda tem uma pedreira que necessita ser aplainada e isso requer tempo. Afinal são décadas de discursos de enfrentamento, para não falar no monopólio do resseguro que por 70 anos criou um sistema fundamental para a consolidação das seguradoras brasileiras, mas com distorções que ainda não foram bem assimiladas por nenhum dos participantes do mercado.
Temas recorrentes durante vários anos, este ano perderam espaço. Ninguém falou enfaticamente contra a distribuição de seguros através das agências bancárias. Elas passaram a ser vistas como mais um canal comercial, mas não como inimigas dos corretores de seguros.
De outro lado, os próprios bancos começam a questionar até aonde vale a pena oferecer garantia de seguro para grandes empresas, sem comprometer ou encarecer o relacionamento bancário.
Não é fácil dizer não num negócio que não está muito claro para um dos maiores clientes do banco. De outro lado, atender eventuais sinistros em que a cobertura não é certa custa caro demais. Assim o que vai se vendo é os grandes conglomerados financeiros perderem o apetite pelos seguros das grandes empresas. Aos poucos seguradoras especializadas nestes riscos começam a tomar seu lugar, oferecendo produtos mais bem desenhados, em função da expertise da empresa.
Outro ponto em que há sintonia é a necessidade do país passar a oferecer garantias mais modernas para diferentes tipos de risco. Por exemplo, o Brasil é atualmente um dos maiores produtores agropecuários do mundo. No entanto os seguros para o agrobusiness ainda são incipientes entre nós. As garantias estão longe de representar parte expressiva do total de seguros que o setor necessita.
Da mesma forma, o microsseguro ainda não decolou. O que temos, e é administrado com grande eficiência, são seguros pequenos, quer pela baixa importância segurada, quer pela sofisticação do risco. O microsseguro é uma necessidade imperiosa, não apenas do setor, mas da sociedade, já que através dele as camadas mais pobres terão pela primeira vez a garantia necessária para, no caso de uma perda, poder retomar o processo de ascensão do ponto em que estava, sem um perverso retorno para a pobreza mais miserável.
Entre os seguros tradicionais também está claro que ainda há muito a ser feito. Os seguros residenciais são raros, tanto que menos de 20% da população tem algum tipo de garantia para suas casas. Os seguros de veículos podem crescer muito. E os produtos para pessoas têm um espaço imenso, em todos os tipos de apólices e programas de seguros.
Como as forças que atuam no mercado estão de acordo quanto ao grosso, é de se esperar que já nos próximos anos as demandas estejam atendidas. Quer queira, quer não, a Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos serão ferramentas importantes para apressar o processo. As seleções e os atletas devem ter cobertura e o país terá que oferece-las. Daí para frente, um grande número de brasileiros tomará contato com elas e sua exigência será uma das molas para o crescimento do setor.
Além isso, há muito mais. Com um pouco de cautela, o setor tem tudo para continuar crescendo em patamares muito superiores ao crescimento nacional.
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