Cenário pessimista
Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo
por Antonio Penteado Mendonça
As projeções mostram que 2014 não será um grande ano para o setor de seguros. Uma série de fatores negativos impactou o país e ninguém imagina a manutenção do crescimento observado ao longo das últimas duas décadas.
Nada que não tenha acontecido até com mais gravidade em praticamente todos os outros setores da economia e que explicam porque o crescimento do país é pífio, os juros estão altos, o governo inventa mágicas para tapar o sol com a peneira e o desemprego começa a pesar para os titulares dos salários mais elevados, principalmente na indústria.
Quando o quadro ruim reúne tantas variáveis importantes complicando o todo, não tem jeito, é muito difícil alguém escapar da maré negativa. O setor de seguros não é a exceção e, além dos impactos diretos que afetam a economia como um todo, o setor ainda foi penalizado pelo aumento da violência que afeta diretamente boa parte das carteiras das seguradoras.
Quando se tem mais de 60 mil mortos no trânsito, não há como os seguros de vida e acidentes pessoais não serem diretamente afetados. Além deles, o DPVAT, o seguro obrigatório para veículos automotores terrestres, também paga sua cota, limitando a possibilidade de as indenizações serem mais elevadas.
Para ficar no segmento, 60 mil mortes são o começo da conta, que acaba custando muito mais cara em função das mais de 600 mil pessoas que ficam permanentemente inválidas todos os anos. A continuação é o custo para o seguro de veículos. A quantidade de mortes é suficiente para mostrar que todos os anos acontecem dezenas de milhares de acidentes graves envolvendo veículos de todos os tipos. Só que, além deles, acontecem outras dezenas de milhares de acidentes de menor gravidade, sem vítimas fatais ou casos de invalidez, que acabam sendo pagos pelas apólices de seguros.
Se a derrama se limitasse aos seguros de veículos, a conta já seria salgada. Mas ela se espalha para os outros ramos, afetando toda a atividade, independentemente do tamanho ou do tipo de risco. Dos seguros residenciais aos grandes seguros de garantia para a realização de obras como hidroelétricas, infraestrutura urbana, aeroportos, estradas, etc., todos são afetados pela crise que atinge a economia brasileira.
Em 2014 a inflação também escapou do controle. Por mais que tentem vender a ideia de que está dentro da meta, a verdade é que a meta é 4,5% ao ano, com 2 pontos para mais ou para menos. No período, a inflação nunca ficou abaixo da meta; ao contrário, sempre esteve no limite superior, quando não um pouco acima. Ou seja, em boa matemática, a inflação está 40% acima do que deveria ser, de acordo com o compromisso do próprio governo.
Este dado é preocupante para o setor de seguros. Parte do dinheiro usado pelas seguradoras para pagar as indenizações e seus custos diretos e indiretos é gerada pelo resultado das aplicações financeiras da companhia. Se os juros estivessem altos e a inflação baixa, o resultado dos investimentos permitiria que elas tivessem um desempenho melhor, ainda que a concorrência estreitando as margens operacionais, pela adição da remuneração das aplicações ao total de prêmios arrecadados. Com a inflação alta, parte do resultado é comido por ela e este número fica menor.
Mas se o cenário de 2014 não é bom, o cenário para 2015, na visão de seguradores, corretores, resseguradores, consultores e economistas, será bem pior. No lado da economia, a inflação deve continuar alta, o crescimento do país será mais uma vez insignificante e o desemprego deve aumentar. Já do lado social, não há uma única indicação de que o número de mortes e casos de invalidez decorrentes do trânsito deva cair. Também não há indicação de que os roubos de todo os tipos serão combatidos com mais eficiência. Verdade que se aplica ao crime organizado de forma em geral.
Como as margens, em função da crise, continuarão baixas, pela impossibilidade do aumento do preço dos seguros, 2015 tem tudo para ser um ano no mínimo complicado para todos os que militam com seguros.
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