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Crônicas & Artigos

em 14/07/23

Capacidade menor que a necessidade

Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça

As seguradoras e resseguradoras têm limites máximos de retenção de riscos, que variam em função do porte da empresa e de sua política de aceitação de riscos. Por questão de tamanho ou política comercial, elas têm um limite. O que passar dele deve ser cedido em resseguro ou cosseguro para não comprometer a capacidade operacional da companhia.

A razão disso é que uma seguradora ou uma resseguradora tem vários clientes e eles precisam ter a certeza de que terão sua pretensão adimplida, no caso de sofrerem um acidente coberto que gere indenização por parte delas.

As operações de seguro e resseguro são completamente diferentes. Enquanto a seguradora trata com o segurado, a resseguradora trata com a seguradora. O objetivo de cada uma não se confunde com o da outra. Mas isto não significa que ambas não tenham que ter capacidade para fazer frente aos seus compromissos, seja no pagamento da indenização de um segurado, seja no acerto de sua parte no risco com a seguradora.

A determinação de um limite máximo de retenção, tanto para a seguradora como para a resseguradora, é a forma de se ter certeza de que as empresas do setor seguem solventes, com capacidade para fazer frente aos riscos, tanto pelas seguradoras como pelas resseguradoras.

É justamente aí que o barco começa a fazer água. Sempre existiram riscos maiores do que a capacidade do mercado para assumi-los. É assim que a região de Miami não tem seguro para furacões, ainda que sendo das mais sujeitas aos danos causados por esse fenômeno climático. Pela mesma razão, o terremoto que devastou Áquila, a maravilhosa cidade medieval italiana, gerou pouquíssimas indenizações de seguros. Tanto Miami como Áquila estão em regiões onde a concentração do risco é maior do que a capacidade de retenção das seguradoras. Então elas não operam com seguro para furacão em Miami, nem com seguro para terremoto em Áquila.

O problema é que, com as mudanças climáticas, esse quadro está se agravando e as seguradoras e resseguradoras não têm mais capacidade para assumir riscos que até há pouco tempo eram seguráveis, por conta das indenizações potenciais serem maiores do que sua capacidade de retenção.

As mudanças climáticas estão ameaçando a solvência das companhias de seguros e resseguros. E a tendência é o cenário se agravar. Prognósticos para o “El Niño” apontam que o fenômeno pode gerar prejuízos de 80 trilhões de dólares até o final do século, sendo que 3 trilhões devem acontecer até 2029.

Se as seguradoras brasileiras não aceitam uma série de riscos, em função da ameaça à sua solvência, agora seguradoras internacionais começam a rever sua política de aceitação e algumas, por exemplo, estão deixando de aceitar riscos de origem climática em toda a Flórida e não apenas em Miami.

Como os riscos climáticos devem aumentar nos próximos anos, é possível dizer que, paradoxalmente, no mundo todo, a oferta de seguros para eles deve diminuir. Não porque as seguradoras queiram, mas para garantir a sua sobrevivência.

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