Balão mata e queima
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
Quem vê um balão voando leve e solto pelo céu azul de um dia de sol não imagina que ele é capaz de se transformar numa arma terrível, capaz de matar e destruir com a eficiência de um lança-chamas ou de um pelotão de infantaria.
Não é exagero. Quem conhece a realidade sabe que atrás de um balão bonito vão dezenas de pessoas que se excitam com a perseguição e com o planejamento para calcular o local da queda e chegar lá antes dos outros.
A competição ganha contornos violentos e não é raro grupos armados com paus e pedras se enfrentarem na tentativa de ficarem com os despojos, ou seja, com o balão que caiu. Não é tão raro assim alguém no meio desses grupos estar armado com uma faca ou mesmo uma arma de fogo. E já aconteceu mais de uma vez dessa pessoa atirar contra os grupos rivais, ferindo e até matando quem, em princípio, participava de uma brincadeira.
Quando o balão cai em local aberto, a luta se resume aos vários grupos que estavam atrás dele se enfrentarem para ver quem será o vitorioso e o levará embora. O problema é quando o balão cai numa residência. É comum os caçadores de balões não respeitarem o muro e invadirem a casa para apanhar o prêmio da perseguição. Como é óbvio, isso nem sempre acaba bem. Não há razão para os moradores permitirem a entrada de uma horda de vândalos excitados e dispostos a tudo para levar o alvo de sua correria como um troféu. E isso também pode acabar numa situação mais tensa ou mesmo violenta.
Esta breve descrição é suficiente para mostrar os impactos negativos que um balão, ainda sem causar danos diretos, tem sobre a sociedade e a atividade seguradora em especial.
A corrida de automóvel pelas ruas e estradas na perseguição ao balão, que em seu voo segue os caprichos do vento, é fonte de acidentes, colisões, capotamentos, etc., dos veículos envolvidos nela, com as consequências possíveis no seguro obrigatório de veículos (DPVAT), seguros de veículos, seguros de vida e acidentes pessoas e planos de saúde privados.
Mas isto é só o começo. Os balões são armas diretamente perigosas. Dependendo das razões da queda, podem ser causadores de incêndios de largas proporções, capazes de atingir zonas rurais e zonas urbanas, destruindo pelas chamas imóveis e seus conteúdos, veículos, plantações, etc.
O Corpo de Bombeiros sabe quantas vezes ao longo do ano ele é acionado para debelar incêndios causados pelos balões. São eventos imprevisíveis não quanto à queda do balão, mas quanto ao local da queda e as consequências daí decorrentes.
Imagine um balão caindo em cima de uma refinaria de petróleo. Os danos podem ser altíssimos em função do alto teor explosivo e incendiário da planta onde o balão caiu. E o mesmo pode ser replicado numa série de imóveis utilizados para os mais diversos fins. As perdas podem ser colossais. Como empresas maiores e mais bem estruturadas costumam contratar seguros, os prejuízos decorrentes da queda de balões em áreas seguradas podem impactar os preços de renovação dos seguros de incêndio empresarial de uma determinada seguradora, cujos segurados foram vítimas destes acidentes.
Mas há ainda um outro ponto a ser analisado e que tem potencial para causar danos imensos no caso da ocorrência de um acidente. Os balões voam sem qualquer tipo de controle, seguem ao sabor do vento e cruzam rotas de pouso e decolagem de aviões de todos os tipos. Muitos, inclusive, por causa do ritmo dos ventos, permanecem um longo tempo em cima das pistas dos aeroportos, aumentando exponencialmente as chances de um acidente, até porque o avião em pouso ou decolagem não tem capacidade de manobra evasiva para evitar a colisão. O impacto de um balão de grande porte contra um avião é capaz de derrubá-lo, matando todos os passageiros e tripulantes.
Sob qualquer aspecto, a capacidade de causar danos de um balão é maior do que seus eventuais benefícios. Assim, as autoridades devem punir severamente os responsáveis por eles.
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