As eleições e o setor de seguros
Originalmente publicado no jornal Sindseg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
Em outubro o Brasil pode ou não começar a mudar de cara. Vai depender dos eleitores que elegerão candidatos para o Governo Federal e para os Estados.
Dadas as particularidades da política nacional, alianças federais não se repetem necessariamente nos estados, o que cria uma situação no mínimo inusitada, já que adversários no campo federal podem dividir palanques e gabinetes nas diferentes Unidades da Federação.
É cedo para se fazer um prognóstico confiável, mas desde a semana passada o cenário político sofreu uma enorme reviravolta, causada pela morte do candidato Eduardo Campos num acidente aéreo na cidade de Santos, em São Paulo. Sua morte guindou ao posto de candidata à Presidência pelo PSB a vice de sua chapa, Marina Silva, que, logo na primeira pesquisa, empatou tecnicamente com Aécio Neves no primeiro turno e com a presidente Dilma, no segundo. Quanto disso é fruto da comoção que tomou conta da nação ainda é cedo para se dizer.
Ninguém discute o cacife político da nova candidata que nas últimas eleições terminou o pleito com 20 milhões de votos. A questão atual é saber quantos deles se mantiveram fiéis e quantos novos eleitores aceitarão suas propostas, concordando em votar nela. São respostas que dependem do tempo e do andar da carruagem.
Agora é cedo para imaginar o que pode acontecer em outubro, exceto que é praticamente certa a ocorrência do segundo turno para Presidente da República.
Grosso modo, as propostas das campanhas não são tão diferentes uma das outras. Bem estar social, saúde pública, segurança, educação e garantia de renda estão em todos os programas. Já os partidos têm formas de atuar que fazem com que as visões mais ou menos semelhantes se tornem quase opostas depois de conseguir o poder.
Mas vença quem vencer, 2015 será um ano mais difícil do que 2014. Ao longo dos últimos quatro anos, o Governo Federal foi se distanciando da linha seguida pelo seu antecessor, deixando a ortodoxia econômica em nome de uma heterodoxia bastante mambembe, que vai cobrando seu preço, no patamar da inflação próximo da banda superior da meta; no desemprego que começa a surgir nos programas de demissão voluntária; nos juros altos; na diminuição do crédito; no aumento da inadimplência; etc.
Como estes são fatores que já atacam a economia, não há razão para creditá-los às eleições. Não, eles são a consequência da política equivocadamente implantada pelo Governo Federal, de quatro anos para cá. Não poderia dar certo e não deu.
É justamente este fracasso que cobrará seu preço. E tanto faz quem vencerá a eleição para Presidente, para o ano que vem terminar bem serão necessárias medidas amargas.
Para o setor de seguros este cenário já cobra seu preço hoje. Assim, não há que se imaginar que a eleição, no curto prazo, terá impacto muito relevante nos negócios da atividade. Os números continuarão positivos, mas muito mais deprimidos do que cinco anos atrás.
Mas as eleições podem afetar o futuro do setor. Dependendo de quem vencer e de como vencer, o país pode ser puxado para posições mais próximas da Argentina e da Venezuela, ainda que vendo o que está acontecendo com as duas nações. Será catastrófico para toda a sociedade brasileira, mas é um cálculo que precisa ficar à mão porque, se o atual Governo Federal for reeleito, tem tudo para acontecer.
Já se a vitória sorrir para um dos candidatos da oposição, a boa notícia para o Brasil será muito mais a alternância do poder do que diferenças fundamentais na maioria dos trabalhos do Legislativo.
No prazo mais longo, o setor pode ser negativamente afetado pela visão mais estatizante de parte dos políticos. Se isto acontecer, a atividade seguradora pode entrar na contramão do que temos hoje, até mesmo com processos de estatização sendo implantados, ainda que não necessariamente em todas as atividades. Isso seria péssimo, mas ainda é cedo para se apertar o cinto.
Então quer dizer que esta eleição tanto faz? Não. Justamente pelos riscos envolvidos, cada cidadão deve votar levando em conta o Brasil que ele deseja deixar para seus filhos. Poucas eleições terão tantas consequências como essa.
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