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Crônicas & Artigos

em 31/08/20

A telemedicina veio para ficar

Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo.
por Antonio Penteado Mendonça

Graças à pandemia do coronavírus, a telemedicina entrou em cena, se Deus quiser, para ficar. Por razões pouco claras, antes da Covid19, apesar de reconhecida como importante ferramenta para melhorar o atendimento à saúde, a telemedicina havia sido vetada. Não podia ser usada, ainda que salvasse vidas. Nada que o Brasil não conheça, mas que, agora, parece que atingiu o ponto de não retorno, com tudo de bom e positivo para a população brasileira.

Bem antes da chegada da pandemia, as operadoras de planos de saúde privados já falavam em empregar a telemedicina como um instrumento importante para melhorar o atendimento e baratear custos. Através dela seria possível fazer consultas à distância, analisar resultados de exames, diagnosticar e prescrever tratamentos. Seria possível fazer o acompanhamento dos pacientes quando estivessem fora de seu domicílio. E, principalmente, seria possível disponibilizar conhecimento e experiência para médicos, em locais distantes, realizarem inclusive cirurgias complexas, assessorados pelos melhores especialistas.

Imagine alguém que sofre um AVC (Acidente Vascular Cerebral) no interior de Roraima e que necessita uma cirurgia de emergência para salvar a vida. As chances de ser transportado a tempo para um centro médico com condições ideias para atendê-lo são mínimas, em função do tempo e da distância.

Usando a telemedicina, um cirurgião sem especialização na área poderia realizar o procedimento, monitorado e guiado por um neuro cirurgião de um dos hospitais de ponta do país, sentado em seu consultório a milhares de quilômetros de distância. A vida de um paciente, em princípio, condenado à morte pela precariedade da localidade onde sofreu o AVC, seria salva pela utilização de uma ferramenta que permite ao especialista, longe do local, sentado na frente de seu monitor, acompanhar milimetricamente o que acontece na sala de cirurgia e indicar ao cirurgião que está realizando a intervenção cada passo que deve dar para concluir com sucesso o procedimento salvador.

E o exemplo se estende para todos os campos da medicina, abrindo para os médicos do interior a possibilidade de realizar intervenções sofisticadas, para as quais não têm a especialização necessária, graças ao monitoramento remoto realizado por um especialista.

Mas não é só no campo das cirurgias que todos saem ganhando. Através da telemedicina é possível a realização de consultas à distância, além da análise dos resultados dos exames, oferecendo ao médico que está diante do problema a avaliação e o conhecimento do especialista que emite uma segunda opinião, confirmando ou aperfeiçoando a avaliação do profissional que está atendendo o paciente.

O uso da telemedicina tem ainda a vantagem de baratear os custos do atendimento médico-hospitalar. Com sua utilização, remoções, que de outra forma seriam obrigatórias, podem ser substituídas pela intervenção à distância de um especialista capaz de auxiliar a equipe que está atendendo, oferecendo o conhecimento profissional indispensável para a realização dos procedimentos para o caso, no próprio local.

Outra utilização óbvia para a telemedicina é o acompanhamento de pacientes crônicos longe de suas residências. Através dela, o médico pode acompanhar seus pacientes e determinar imediatamente as providências, tanto para situações de rotina, como extraordinárias.

Com a telemedicina ganha o cidadão, que passa a ter acesso a recursos que de outra forma estariam fora de seu alcance. Ganham os profissionais, que passam a ter acesso às técnicas dos especialistas que os apoiam, não só solucionado problemas, mas adquirindo novos conhecimentos para melhorar seu desempenho. Ganham os planos de saúde e seus segurados, pela redução de custos e sofisticação do atendimento. E ganha o SUS (Sistema Único de Saúde), que pode se valer dela para aumentar a oferta de serviços e melhorar os já existentes. Pretender acabar com a telemedicina após a pandemia é dar um tiro no peito do brasileiro.

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