A precificação dos seguros
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
No ano de 2020, o setor de seguros teve um expressivo resultado positivo. Na sua base estava a pandemia da covid19 e o isolamento social que reduziu a exposição das pessoas aos riscos comuns do dia a dia. Forçada a ficar o máximo possível em casa, a população usou menos os automóveis e o transporte coletivo, saiu menos às ruas, usou mais a internet para fazer suas compras, adotou o home office como modalidade de trabalho, enfim, modificou radicalmente sua maneira de viver. Essa modificação teve como consequência a redução da sua exposição aos riscos que a ameaçavam, começando pela queda do número de assaltos, redução dos furtos e roubos de veículos e queda do número de acidentes com vítimas.
Os planos de saúde também foram beneficiados pela redução da procura pelos hospitais e a consequente queda na realização dos procedimentos de todas as naturezas, o que melhorou bastante o resultado das operadoras. A contrapartida veio no seguro de vida, já que as seguradoras, mesmo podendo invocar a cláusula de exclusão de cobertura de pandemias para negar as indenizações pelas mortes causadas pela covid19, decidiram pagar as indenizações, o que comprometeu o resultado de mais de uma companhia.
Este cenário fez que os resultados do setor, nos balanços de 2020, fossem em média bastante positivos, quadro que se alterou muito em 2021. Em 2021, a população começou a relaxar as medidas de isolamento, saiu para as ruas, retomou os antigos hábitos, inclusive quanto ao uso dos automóveis, o que resultou no aumento significativo dos sinistros, tanto de colisão como de roubo, com a agravante da falta de peças decorrente da pandemia encarecer os reparos.
Mas a falta de peças, principalmente de semicondutores, comprometeu a fabricação de veículos novos, desencadeando um processo de aumento de preços que impactou fortemente toda a cadeia de comercialização, sobretudo de veículos usados, que atingiram valores inimagináveis até então.
Como se não bastasse, em 2020 e 2021, o resultado do seguro rural foi seriamente comprometido por secas no Sul e excesso de chuvas no Centro-Oeste. Ou seja, o quadro geral da atividade, especialmente nas carteiras de auto e seguro rural, foi bem pior que no ano anterior.
As seguradoras não podem operar por muito tempo com prejuízo em suas carteiras, sob risco de não honrarem suas obrigações. As formas de corrigir isso são interromper a operação nas áreas críticas ou readequar o preço de suas apólices. É isso que elas estão fazendo e é por isso que a renovação dos seguros de automóveis está assustando os proprietários de veículos. Alguns aumentos, infelizmente, são pesados, mas as seguradoras não têm alternativa. E a regra vale também para o seguro rural, que, inclusive, deixou de se disponibilizado em determinadas regiões do país, expondo os agricultores ao risco de operar sem seguro.
Não é um quadro confortável para ninguém, mas não há o que fazer. Sem o reajuste dos prêmios as seguradoras não poderiam seguir operando.
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