A curva sobe de um lado e desce do outro
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
A curva da epidemia do coronavírus é ascendente. Se tivermos sorte, damos uma achatada nela, só não sei se o suficiente para evitar o caos no sistema de saúde pública e a quebra de operadoras de planos de saúde privados.
A escalada deve se acelerar nas próximas semanas e, se tudo ficar dentro do previsto, teremos o pico da epidemia no final de abril e maio. A questão é a velocidade que ela vai se espalhar pelo país. Se as notícias até agora dão conta do que está sendo feito em São Paulo, onde está concentrado o grosso dos casos, outras regiões não têm a rede hospitalar paulistana. Mesmo no interior do estado existem regiões com poucos recursos e, se o vírus as atingir, o quadro pode se agravar muito.
Todavia, se comparadas com a realidade de outros estados brasileiros, as regiões menos aparelhadas de São Paulo ainda são privilegiadas. O quadro no norte e nordeste é extremamente preocupante. E se a verdade vale para as capitais, é muito mais cruel no interior. Não há rede hospitalar minimamente capacitada a fazer frente a uma pandemia com as caraterísticas da Covid19.
Como é certo que o vírus vai se espalhar e não é uma gripezinha à toa, a situação pode ficar muito mais grave do que os alertas das autoridades têm indicado que vai acontecer.
É olhar a rapidez com que o vírus se espalha por países mais desenvolvidos, com condições sanitárias muito melhores, com redes de água e esgoto eficientes, para se ter uma ideia do tamanho que o desastre pode atingir num país como o Brasil.
Não adianta pânico, mas a verdade é que não temos muita margem de manobra, além de impor o isolamento social para tentar reduzir a velocidade de contaminação pelo vírus e assim evitar o colapso da rede de saúde pública e a quebra de operadoras de planos de saúde privados, que não darão conta de suas faturas.
A evolução da doença pode ser medida pelo que acontece na Santa Casa de São Paulo. Alguns dias atrás, havia poucos casos de internação com suspeita de Covid19 e, no começo da semana, apenas duas pessoas internadas em UTI. Na quinta-feira, o número saltou para vinte pessoas, no Hospital Central, e o Hospital Santa Isabel, que atende planos de saúde privados, viu o número de internações dobrar a cada 24 horas.
Eu gostaria que não fosse assim, mas a Covid19 vai se espalhar pelas periferias da cidade e da Grande São Paulo, onde as condições de propagação são muito mais favoráveis, em razão da promiscuidade existente na maioria das favelas, da falta de água tratada e saneamento e da escassez de leitos hospitalares aparelhados para dar conta da demanda, se o processo de contaminação for rápido.
Como já dito, as condições paulistanas são bem melhores do que as da imensa maioria da nação, mas estão longe de serem as ideais. Então, a briga, Brasil a fora, será de cachorro grande e o favorito é o vírus.
De outro lado, se a curva da pandemia tem tudo para subir, a curva da economia e do desenvolvimento social tem tudo para descer ladeira abaixo, jogando o país numa recessão mais grave do que a que acabamos de viver.
Em outras palavras, se ficar o bicho come, se correr o bicho pega. Não há muita alternativa, as medidas de combate ao vírus forçam a quase que interrupção da economia. E, ainda que o isolamento seja por prazo relativamente curto, os danos serão terríveis, começando pelo desemprego e pela quebra de empresas.
A única forma de minimizar o quadro é a injeção maciça de recursos pelo Governo, como os países desenvolvidos vem fazendo, disponibilizando quantias gigantescas para proteger os empregos, os autônomos e as micro, pequenas e médias empresas. Mas, mesmo isso, será apenas um alívio. 2020 será um ano muito duro.
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