A beleza do seguro
Originalmente publicado no jornal Sindseg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
Eu trabalho com seguro desde 1976 e me sinto um privilegiado por isso. Todo trabalho engrandece o homem, mas algumas atividades vão além de sua importância própria como trabalho e geram benefícios para toda a sociedade. É o caso do instituto do seguro. Poucas atividades econômicas se baseiam em princípios éticos e sociais tão belos e importantes quanto ela.
O seguro é uma das formas de proteção social mais antigas que existem e, com certeza, das mais eficientes. Na antiga Mesopotâmia a operação já era feita, mais ou menos nos moldes atuais, para proteger as caravanas e ratear os prejuízos sofridos por alguns de seus integrantes de forma proporcional entre todos que as compunham.
Apesar de ser milenária, a operação ganhou destaque no século 18, com a expansão do comércio britânico, que levou à criação do Lloyds. Mesmo na Europa, bem antes disso, por volta de 1350, Portugal criou uma companhia com a missão de preservar a frota, substituindo as embarcações perdidos através de um fundo especial, composto por dez por cento do resultado da pesca. Em seguida a Itália começou a se valer do instituto do seguro, que se espalhou pelo continente até atingir seu auge na Grã-Bretanha de 1700, primeiro garantindo o comércio internacional, depois os imóveis.
A atividade se baseia em alguns conceitos colocados entre os mais elevados de todas as civilizações. Conceitos que estão entre os responsáveis pelo desenvolvimento humano e pelo aprimoramento da vida em comunidade.
A primeira noção fundamental para se entender o seguro é a proteção coletiva. Os grupos se formaram e cresceram tendo como ideia angular a proteção dos indivíduos pela ação coletiva. Este é o primeiro e mais importante pressuposto do seguro. O seguro só existe porque é um mecanismo de proteção social, pelo qual os participantes de um determinado grupo dividem entre si os prejuízos que atingem alguns de seus membros. Ou seja, é exatamente a ideia por trás da codificação mesopotâmica, mais de 4 mil anos atrás.
A segunda premissa básica para o funcionamento do seguro é a solidariedade. Todos se unem para fazer frente, de forma conjunta, aos danos que atingem alguns dos membros do grupo. “Eu estou com você porque sei que, se eu for atingido, você estará comigo”. É um princípio ético basilar e que explica o sucesso de algumas civilizações altamente desenvolvidas.
Mas a solidariedade leva a outro diferencial importante. A união das forças de todos em prol do bem comum. O seguro é a ação coletiva em defesa do indivíduo. Na medida em que um integrante é afetado, o grupo se une e soma suas forças no sentido de proteger e resgatar a capacidade de atuação da vítima.
Como se não bastasse, o seguro incentiva a noção de misericórdia. E isso acontece através do rateio das perdas das vítimas dos eventos danosos por todos os integrantes do grupo. Quer dizer, uma pessoa é atingida, mas seu prejuízo não fica integralmente com ela. Ao contrário, o prejuízo é rateado proporcionalmente por todos os que fazem parte da comunidade.
Finalmente, a soma de todos estes fatores positivos gera mais um fator positivo. A geração de riquezas indispensável para custear o progresso e o desenvolvimento da sociedade. Baseado na criação de um fundo composto pela participação proporcional de cada um, o seguro gera e administra grandes massas de recursos, que são aplicados em projetos de infraestrutura ou de desenvolvimento social.
Como o fundo bem equilibrado é maior do que as indenizações que vão sendo pagas ao longo do tempo, é possível investir os recursos gerados pelo setor em projetos de maturação lenta ou rentabilidade mais baixa, permitindo que outros recursos sejam destinados a atividades mais rápidas e diretamente mais rentáveis.
Mas o que me comove, o que me deixa orgulhoso do setor é o pagamento do sinistro. O ato de assumir os prejuízos de alguém, recompondo rapidamente o seu patrimônio ou a sua capacidade a ação.
Ver o alívio dessa pessoa não tem preço.
Voltar à listagem