Se os flamboyants falassem
Ah, se os flamboyants falassem… Se contassem tudo o que viram e veem ao longo de suas vidas de árvores, plantadas em calçadas mais ou menos cuidadas.
Se pudessem falar o belo e o não tão belo que passou perto de seus galhos, algumas vezes floridos, como agora.
Se tivessem vontade de contar as infindáveis vezes que viram a vida humana se desenrolar debaixo de seus galhos, com riso e lágrimas, beijos e gestos ternos, e gritos, e tiros.
Se soubessem a importância de tanta memória para refazer a memória da cidade e de seus habitantes.
Se os flamboyants quisessem, quanta história contada de uma forma teria que ser revista porque não foi assim que aconteceu.
Se eles revelassem apenas um pouco de tanta vida, imóvel ao longo dos anos, debaixo de chuva e debaixo de sol, com vento, frio e calor, mas acima de tudo com sua florada maravilhosa colorindo a festa do natal.
Os flamboyants são árvores de vida curta e madeira mole. Mas são belos. São belos como a poesia do por do sol que toda tarde morre escondida atrás do horizonte.
A florada dos flamboyants é o retrato da vida. É a sequência da vida, na rotina dos dias, dos meses, dos anos, até que um dia a madeira apodrece e o tronco cai.
Os flamboyants sabem que sua passagem é efêmera. Por isso, ao contrário dos ipês que vivem séculos, se preocupam em olhar em volta, em ver a vida em movimento, em analisar os fatos.
Para eles os mistérios devem ser explorados. Tanto faz se as respostas não existem. O que vale é a pergunta: Por que não?
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