Sábado de manhã
Eu abri a janela sem muita esperança, depois da noite particularmente fria. Não estaria chovendo, mas não havia porque o dia ser diferente do que vinham sendo os dias da semana que acabava.
A única diferença era o dia da semana. Sábado. Em vez de trabalhar, de ir ao escritório, dia de andar na Cidade Universitária, com a Clotilde na coleira.
Tem quem diga que os cães não pensam ou não entendem. Não é verdade. A Clotilde sabe exatamente quando é sábado e quando é domingo e fica agitada, balançando a cauda de ponta branca, correndo pelo jardim, me esperando para o passeio.
Não tinha razão alguma para o clima daquele sábado ser diferente dos dias anteriores. Frio e úmido, como que para resgatar a antiga garoa que não existe mais na vida da cidade.
Abri a janela sem maiores expectativas e fui atingido por uma manhã deslumbrante! O dia me pegou com um direto, que me imobilizou na frente da janela.
O azul do céu era absoluto, não havia uma única nuvem para quebrar a cor que se estendia alta até o infinito circunscrito pela visão possível da janela.
O jardim estava iluminado por uma luz alegre, forte e clara, que realçava os tons dos verdes mais ou menos castigados pelo inverno.
Na frente da janela, encostada no muro, a camélia me oferecia suas flores brancas. À esquerda dela, uma azaleia me dava suas flores rosas e, à direita, a alta árvore do viajante esbanjava o verde de suas folhas parecidas com as bananeiras.
Senti o cheiro da vida entrar pelo meu corpo no ar frio que eu aspirei fundo. Era a natureza explorando seus limites e eu era parte dela.
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