Roleta Russa voadora
As aves minimamente preparadas sabem que a vida na cidade é muito mais fácil do que na natureza. Na natureza são obrigadas a caçar, a procurar o alimento, a disputar espaço com aves eventualmente mais agressivas.
Na cidade, não. É tudo mais fácil. Os ninhos podem ser construídos nos beirais dos telhados, nas calhas, em mil buracos nas fachadas dos prédios, túneis, pontes e viadutos.
E o alimento sobra farto e fácil de ser encontrado nos milhões de sacos de lixo, nos lixões, nos terrenos baldios, no campus da USP e em outros lugares de fácil acesso e pouco perigo.
O novo muro de vidro da USP é a exceção à regra e as aves não correm grandes riscos voando pelo céu da cidade. A prova são as pombas que tomaram todos os espaços como se estivessem na Praça de São Marcos e os turistas chineses ainda não tivessem invadido Veneza.
Nessa festa comemorando a vida, todavia, há situações perigosas. Nem sempre o alimento cai no colo do sabiá sem cobrar seu preço, que pode ser até a vida.
Tem menino que caça pomba para vender, tem gente que ainda prende passarinhos nas gaiolas, mas o perigo real é outro.
Algumas aves com tendência suicida ou esportistas radicais preferem conseguir o alimento atacando as tigelas dos cachorros. A ração deve ter gosto melhor. Ou é pela aventura mesmo.
Acontece que existem cachorros e cachorros e alguns, como a Clotilde, se sentem afrontados ou mesmo diminuídos pelas aves comendo em suas tigelas. A Clotilde não deixa barato. Fica escondida atrás do carro e, quando o sabiá sai voando baixo, dá o bote e volta e meia é bem-sucedida. Pega a ave em pleno voo. Eu não sei se são sabiás incautos, camicases ou amantes da emoção, mas comer na tigela da Clotilde é sempre perigoso.
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