Profunda solidão
A prefeitura não se entende com ninguém. Nem com amigos, nem com inimigos e muito menos com a população. Como os eremitas cristãos de dois mil anos atrás, ela se esconde no deserto em busca de alguma coisa que nem ela sabe qual é.
É aí que mora o drama. Os eremitas podiam procurar alguma coisa que não sabiam o que era. A prefeitura não. A prefeitura tem que governar, tentar colocar ordem no caos, buscar oferecer o bem comum.
Todo mundo sabe que um bom governante tem que ter um mantra, um lema capaz de mover montanhas, aplainar obstáculos, convencer pessoas.
“Se mais mundo houvera, lá chegara”. “Não pergunte o que seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer por seu país”. “Eu tenho um sonho”. “Chuta de bico que o jogo é de taça”.
Tanto faz, o importante é carregar as massas, convencer que o impossível é possível, dar esperança.
Olhando São Paulo até um cego vê que não é nada disso que acontece. Ao contrário, a puxada é pra baixo, como se fosse indispensável afogar o maior número de pessoas no menor espaço de tempo.
Parece que a prefeitura tem raiva do povo, que não gosta de quem a elegeu, que fez um pacto místico para purgar na terra os pecados da humanidade.
Quem mora em São Paulo não precisa inferno. Ele já faz parte das rotinas da cidade. E vão apertando os parafusos. Cada dia que nasce vê pintados no chão mais alguns metros de tortura, faixas que segregam uma pista preciosa, deixando os carros mais apertados. Nem parece que o partido da prefeitura é o mesmo do governo federal. Se fosse, veria que Brasília quer vender mais carros, não punir os motoristas.
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