Os Ipês e as cerejeiras
Enquanto as cerejeiras da USP mal e mal florescem, com uma única árvore realmente carregada, os ipês dão show em todos os cantos da cidade. Mas, se tem um lugar onde se superam, é nos cemitérios.
Os ipês do Cemitério São Paulo são, faz muito tempo, os campeões. Saíram na frente, homenageando os que dormem debaixo de sua sombra, e todos os anos se enfeitam de flores que vão do rosa ao roxo intenso, como que para mostrar que a morte pode ser apenas um rito de passagem e que, depois dela, tem mais vida, colorida e intensa.
Quando os ipês do Cemitério do Araçá perceberam o que seus irmãos do Cemitério São Paulo faziam, foram à luta e deram o troco. Tem um deles, quase no muro da Cardoso de Almeida, deslumbrante.
Tenho pra mim que ele é o chefe, quem determina quem faz o quê e quando. A diferença de sua florada seriam os galões que definem seu grau de comando na hierarquia da tropa.
Com ele florido, os outros ipês do Araçá se sentem desafiados e se vestem com que têm de mais belo, para mostrar aos ipês do Cemitério São Paulo que eles podem ter começado, mas hoje em dia a briga é de cachorro grande, disputada palmo a palmo.
O curioso é que, como quem não quer nada, os ipês do Cemitério da Consolação fazem de conta que não entram em dividida, mas correm por fora, dando uma aula de pintura no contraste de suas flores com o céu.
Enquanto isso, as cerejeiras da USP apanham para conseguir meia dúzia de flores e tapar sua nudez. O ano passado, elas floriam de chamar a atenção, mas este ano não conseguem decolar, sabe-se lá porquê. De qualquer forma, nesse jogo de vaidades quem ganha somos nós, que temos de graça a beleza das flores para nos fazer esquecer o que estão fazendo com a cidade.
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