O xabu das pitangueiras
Ninguém com mais de três anos de idade duvida que há mais coisas entre o céu e a terra do que concebe nossa vã filosofia. Todo mundo sabe que há, o que ninguém sabe é o quê.
Pode ser que a pequena carga das pitangueiras se enquadre nesta situação. Ou não. Pode ser que seja só vingança contra a importação de urucum boliviano para pintar o traçado das ciclovias.
O fato é que a jabuticabeiras fizeram sua parte e ainda voltaram, um mês depois da safra, para dar bis, com outra carga de respeito. As amoreiras também compareceram e as goiabeiras já estão carregadas para o próximo verão, assim como as mexeriqueiras.
E a época das pitangueiras chegou, aconteceu, passou e nada. Ou melhor, quase nada, meia dúzia de frutinhas e ponto, além do tradicional ninho de sabiá, que todos os anos faz sua parte na pitangueira lá de casa.
Ingenuidade minha pensar que as pitangueiras tinham ciclos e gostos parecidos com as jabuticabas. O ponto em comum é que as duas são tipicamente brasileiras e que, com a idade, ficam árvores imponentes, dessas de se olhar com respeito e admiração, além, é claro, de ficarmos com água na boca, esperando a hora das frutas amadurecerem e serem comidas no pé.
Tem gente que não gosta de jabuticaba, tem gente que nunca viu pitanga. Uma e outra são falhas perdoáveis, existem defeitos muito maiores. Se é que se pode dizer que não conhecer pitanga seja defeito.
De verdade, é consequência da urbanização do Brasil. As cidades não têm muitas pitangueiras, nem galinhas, nem gado. O resultado é as crianças perguntarem se fazenda é fábrica de bezerro.
O que levou as pitangas a darem xabu? Foi a seca? O Corinthians ser campeão? O português da Presidente? Provavelmente nunca saberemos.
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