O Rio de Janeiro e a Barra
Podem dizer o que quiserem, não é verdade que o Rio de Janeiro e a Barra sejam uma única cidade. Não são. Uma é uma, a outra é outra.
O Rio vai até São Conrado. Aí tem um território neutro, ocupado pelas favelas do Vidigal e da Rocinha, e depois vem a Barra.
O meio não é de ninguém. Ou melhor, corresponde à terra de ninguém da Primeira Guerra Mundial. O espaço de no máximo poucas centenas de metros, entre as trincheiras. Era nele que as batalhas aconteciam. E os soldados morriam.
No espaço entre a Barra e o Rio de Janeiro também acontecem batalhas, mas não tão sangrentas como as da Grande Guerra.
Quem não tem nada com isso, mas passa por lá, corre o sério risco de não ir, nem voltar, mas ficar caído, sangrando, derrubado por uma bala.
A vida nas duas comunidades é diferente. Quem mora nas duas comunidades é diferente. A forma de se comunicar também é diferente.
Tanto faz se dizem que é tudo a mesma coisa. É para enganar turista ou pagar menos imposto. Quem anda por lá sabe que não é.
O Rio é o Rio, a Barra é a Barra. As praias são diferentes, o mar é diferente, as lagoas são diferentes.
Nenhuma lagoa da Barra se compara à Lagoa Rodrigo de Freitas. Em compensação, as lagoas da Barra têm jacarés, a Rodrigo de Freitas tem peixes mortos.
É verdade que a Barra é bonita, mas Copacabana, Arpoador, Ipanema e Leblon são mais bonitos ainda. Só quem não conhece acha que dá comparação.
A Barra é imensa; o Rio tem recortes que minimizam as distâncias, dão outra dimensão – mais próxima e mais humana – para o cenário em volta. Eu prefiro o Rio de Janeiro. A Barra é linda, mas é outra cidade.
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