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Crônicas & Artigos

em 03/11/14

O que muda para o morto?

por Antonio Penteado Mendonça

Outro dia, um amigo que fazia tempo que eu não encontrava me disse que estava se sentindo mais seguro na cidade de São Paulo. Que ele havia lido que o número de homicídios havia caído e isso era muito bom, mostrava a eficiência das políticas públicas e que ele já percebia nas ruas uma melhora do humor da população.

Prosseguindo, ele disse que a contrapartida era o aumento do número de latrocínios. Era um dado menos bom, mas tolerável, afinal os homicídios estavam caindo.

Eu perguntei para ele que vantagem o morto levava se morria vítima de latrocínio em vez de homicídio. Ele fez cara de espanto e perguntou se eu estava brincando com ele.

Foi aí que percebi que ele não sabia que, tanto nos homicídios, como nos latrocínios, a vítima acaba morta, em função da ação violenta do bandido.

Como ele é uma pessoa de bom padrão social, que estudou em escolas particulares e tal, me veio na cabeça quantas pessoas não familiarizadas com o direito sabem que o latrocínio tem em comum com o homicídio a vítima acabar morta?

A diferença entre os dois crimes é que no latrocínio há a intenção do roubo como mola para o desfecho trágico, ao passo que no assassinato há apenas o ato de se tirar deliberadamente a vida de outra pessoa.

Em outras palavras, para o morto é absolutamente indiferente ele morrer vítima de homicídio ou vítima de latrocínio.

Tanto num como noutro, ele morre sem querer e de forma violenta. Se o crime é homicídio ou latrocínio pode ter relevância para o processo e para a condenação do criminoso. Para a vítima, o ato que tira sua vida é indiferente. O que ela não queria era morrer. E mesmo não querendo, está morta.

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