O que muda para o morto?
Outro dia, um amigo que fazia tempo que eu não encontrava me disse que estava se sentindo mais seguro na cidade de São Paulo. Que ele havia lido que o número de homicídios havia caído e isso era muito bom, mostrava a eficiência das políticas públicas e que ele já percebia nas ruas uma melhora do humor da população.
Prosseguindo, ele disse que a contrapartida era o aumento do número de latrocínios. Era um dado menos bom, mas tolerável, afinal os homicídios estavam caindo.
Eu perguntei para ele que vantagem o morto levava se morria vítima de latrocínio em vez de homicídio. Ele fez cara de espanto e perguntou se eu estava brincando com ele.
Foi aí que percebi que ele não sabia que, tanto nos homicídios, como nos latrocínios, a vítima acaba morta, em função da ação violenta do bandido.
Como ele é uma pessoa de bom padrão social, que estudou em escolas particulares e tal, me veio na cabeça quantas pessoas não familiarizadas com o direito sabem que o latrocínio tem em comum com o homicídio a vítima acabar morta?
A diferença entre os dois crimes é que no latrocínio há a intenção do roubo como mola para o desfecho trágico, ao passo que no assassinato há apenas o ato de se tirar deliberadamente a vida de outra pessoa.
Em outras palavras, para o morto é absolutamente indiferente ele morrer vítima de homicídio ou vítima de latrocínio.
Tanto num como noutro, ele morre sem querer e de forma violenta. Se o crime é homicídio ou latrocínio pode ter relevância para o processo e para a condenação do criminoso. Para a vítima, o ato que tira sua vida é indiferente. O que ela não queria era morrer. E mesmo não querendo, está morta.
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