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Crônicas & Artigos

em 15/02/16

O império das quaresmeiras

Elas são científicas. Não adianta a folhinha mudar as datas todos os anos, as quaresmeiras não erram, estão sempre prontas na hora certa. Até parecem escoteiros, se ainda fosse moda um marmanjo de calças curtas comandando um grupo de meninos de calças curtas.

Não sei se é bom ou se é ruim, o fato é que hoje não se vê mais escoteiros com a mesma frequência com que se via quando eu era menino. Não, eu nunca fui escoteiro, mas fui coroinha, algumas vezes, nas missas rezadas na Capela da fazenda.

Agora é o momento mágico da explosão das quaresmeiras, na cidade e na mata. Não tem mais bonita. As flores se sobressaindo na Serra do Mar são deslumbrantes e as flores balançando na cidade também são deslumbrantes.

Sorte nossa que, nestes tempos de cidade suja, pichada e cheirando a urina e fezes, temos as quaresmeiras, indiferentes às visões políticas, aos postes eleitos na marra e à estupidez que graça neste plano, dispostas a fazer a vida mais bonita.

E fazem. Meu Deus, como é bonito ver as árvores cobertas com suas flores intensas e densas!

Árvores de mata secundária, as quaresmeiras não alcançam o tamanho, nem têm a rigidez das perobas e dos ipês. Não, seu tronco não engrossa muito, nem sobe alucinado, querendo abraçar a lua. Feitas de madeira mole, as quaresmeiras levam vantagem nas tempestades de verão: elas se curvam ao vento, o que dificulta sua queda.

Absolutamente fiéis à sua missão, elas chegam para alegrar a quaresma, época que a Igreja pretendia que fosse de sacrifícios. Em homenagem à cidade, a vida deixa a incompetência de quem nos governa de lado para explodir na festa das flores da florada das quaresmeiras.

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