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Crônicas & Artigos

em 26/01/18

No silêncio da madrugada

Diz a lenda que as madrugadas deveriam ser silenciosas. Mas não se impressione, nem acredite, é só lenda. De verdade, as madrugadas nas grandes cidades são quase tão barulhentas quanto o dia ou a noite. A roda não para e gira incessantemente 24 horas por dia.

A diferença é que, na maioria das noites, de madrugada ainda estamos na cama, os com mais sorte dormindo, os menos abençoados pensando na morte da bezerra ou outra coisa do gênero.

É impressionante como os pensamentos de madrugada crescem e as verdades se tornam absolutas e as catástrofes definitivas. Depois, com a chegada do dia nos esquecemos do que tínhamos pensado e vamos em frente com cara de quem sonhou com a Bela Adormecida, felizes atrás dos passarinhos verdes que nos puxam para a vida.

Como eu estou mais no grupo dos que dormem pouco do que entre os dorminhocos profissionais, posso garantir duas coisas: as madrugadas paulistanas não são silenciosas e as madrugadas paulistanas não são tão escuras, ainda que a iluminação pública esteja longe do ideal.

Não sendo silenciosa, a madrugada da cidade tem barulhos densos, duros e fortes, em contrapartida aos ruídos delicados que também enchem suas horas.

Da brecada seguida da batida do carro no muro ao pio do sabiá, as madrugadas oferecem um amplo leque de ruídos, que lembram vagamente uma máquina de ressonância magnética, o que é muito bom, porque, ao fazermos o exame, podemos encher o tempo comparando os sons.

No ritmo de vida das cidades grandes, as madrugadas são muito importantes. Afinal, é nelas que enfrentamos os nossos fantasmas.

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