Lua cheia de maio
Desde menino, a lua cheia sempre mexeu comigo. Quantas e quantas noites desci da sede da fazenda para o terreiro de café para me deitar num edredon velho, estendido sobre os tijolos, e ficar vendo a lua, absoluta, como a dona do céu?
Ou, então, quantas vezes fomos a cavalo até o morro da cabaninha para ver o pôr do sol e voltar para a fazenda cavalgando sob a luz do luar?
A lua cheia tem um imã que me atrai. Posso ficar um tempão sentado, vendo a lua no céu, pensando na vida, que é a mesma coisa que não pensar em nada, mas viajando para outros mundos, outras vidas, outros sonhos feitos realidade.
Como na noite que, sentado na beira de um lago, vi a lua subir no céu e pintar as águas escuras de prateado.
Ou outra noite, faz tempo, no Guarujá, quando o Morro do Maluf tinha poucos prédios e, sentado no terraço da boate que tinha no alto do morro, eu vi uma lua enorme abrir uma estrada de prata no meio do mar.
Poderia ficar lembrando essa crônica inteira e mais duas sem repetir uma única vez as vezes que a lua cheia me comoveu, mexeu comigo, e por isso me traz até hoje lembranças muito boas.
A lua cheia é a mais bonita de todas as luas. Dona do céu, apaga as estrelas porque não gosta de concorrência. Tem quem diga que são as estrelas que fogem dela. Tanto faz, o fato é que, quando ela toma conta do céu, as estrelas desaparecem quase que todas.
E as poucas que ficam se curvam para saudar a rainha da noite, a dona do ritmo das marés e da felicidade das mulheres.
Entre todas as luas cheias, não há nenhum mais bela, mais nítida, mais absoluta do que as luas cheias de maio. Seu branco é mais branco e, no contraste com o céu negro e sem nuvens, nos promete a eternidade.
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