Largo do Arouche
Uma das árvores mais impressionantes da cidade está lá, no Largo do Arouche, como diz o Seu Luiz, meu engraxate, filósofo e coproprietário do pedaço: ”a curva do rio”.
A curva do rio é onde tudo o que desce, levado pela correnteza, bate na margem, fica preso nas tranqueiras e nos galhos, se acumula, numa soma fantástica do mais inusitado com o mais inusitado ainda.
O Largo do Arouche é a curva do rio da cidade de São Paulo. Lá tem de tudo, todas as raças, todos os gêneros, todas as religiões, times de futebol, poderes e poderosos, e a falta deles.
Poderia ser uma praça linda, com suas árvores e seu jardim, suas bancas de flores, restaurantes e os prédios em volta… mas não é.
Ao contrário, o Largo do Arouche está feio. Maltratado, mal preservado, o que poderia ser lindo fica feio. Pichado, coberto de lama, lixo e pó, o Largo não encanta, a não ser que se procure atentamente a beleza escondida por décadas de descaso da Prefeitura.
Pelo Largo do Arouche circulam os tipos mais exóticos, interessantes e inesperados. Acadêmicos da Academia Paulista de Letras cruzam com traficantes de drogas africanos, enquanto polícias fardados e à paisana se misturam com jovens andando sem pressa, sem fazer nada, namorando, largados no chão, nos bancos ou encarapitados nas estátuas.
Do outro lado da rua, o Instituto do Câncer abre suas portas para quem precisa de auxílio. Do lado de cá, o restaurante francês é um dos melhores de São Paulo. Em frente, as bancas de flores dividem suas cores, na tentativa de atrair os fregueses, hoje mais raros do que 20 anos atrás.
O que tinha tudo para ser palco da mais alucinada violência se curva ao peso do trailer da polícia. A calma engana quem passa pelo pedaço. Em baixo das aparências, a vida vibra, única, inesperada e perigosa.
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