Furtos nos cemitérios
Faz tempo que os cemitérios municipais de São Paulo são fonte de abastecimento de metais nobres para fundições ilegais, que derretem o metal, desfiguram seu uso inicial e revendem os lingotes como se não fossem fruto de furto.
O último furto a chamar a atenção da mídia foi o do túmulo do ex-Prefeito Prestes Maia. Curiosamente, indo ao túmulo onde meus pais estão enterrados, eu passei por ele poucos dias antes da notícia ser publicada e fiquei triste pelo estrago no túmulo e pela família que teria o mesmo problema que eu tive quando furtaram todas as placas com os nomes de três gerações de minha família, enterradas no grande túmulo, com espaço para ele, sua mulher e os nove filhos, encomendado pelo meu bisavô.
Quase como um desabafo, substituí as placas de metal por outras de granito, coladas na massiva pedra de granito esculpida por Victor Brecheret. Como prova ou lembrança da violência contra a morte, as novas placas não trazem as datas de nascimento e morte dos que estão enterrados lá. As exceções são meu pai e minha mãe.
A pergunta que fica é: que país é este em que vivemos? Não basta a violência que mata 62 mil brasileiros assassinados e 42 mil em acidentes de trânsito todos os anos, ainda temos o desrespeito aos mortos, nos ataques aos túmulos espalhados pelos cemitérios municipais paulistanos, muitos deles obras de arte feitas por alguns dos maiores artistas brasileiros.
Um dos marcos que destacam o início das civilizações é o respeito aos mortos. Quando o ser humano passa a homenagear seus maiores, através das mais diversas formas de respeito, tem início o processo cultural que distingue o progresso moral do povo. No Brasil, nós estamos invertendo isso. Em vez de respeitar, estamos destruindo as homenagens.
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