Falta d’água no nordeste
Quem me contou foi o Alexandre, da Rádio Estadão. Numa quinta-feira, fui gravar meus programas e ele estava retornando das férias na casa dos pais, no nordeste brasileiro.
O Alexandre é quem grava meus programas faz muitos anos. Por isso, nos tornamos amigos e conversamos sobre os mais variados assuntos, da tristeza que me dá o São Paulo Futebol Clube até a conquista do espaço. Política, eleição, CET, descaso da Prefeitura com a cidade, multas, o alto executivo municipal que chegou de helicóptero e foi embora de carro e por isso atrasou quase duas horas para a reunião seguinte, etc.
“Por falta d’água perdi meu gado, morreu de sede meu alazão”. No nordeste, os versos de “Asa Branca” estão vivos hoje como estavam quando o genial Luiz Gonzaga compôs a célebre música.
O Alexandre contando a tristeza que encontrou quando chegou no sítio do pai dá uma pálida ideia da agonia do agricultor nordestino vendo a terra secar na época do plantio e depois continuar seca, atrofiando a pouca lavoura de quem teve coragem de plantar, além de matar o gado que, ainda que comendo o que não vingou da plantação, vai emagrecendo até morrer de fome e de sede.
Não há sítio que não tenha ossadas e caveiras espalhadas. São as digitais do gado morto, marcando a terra clara e seca, rachada como pele curtida esperando a chuva que não vem.
Vem caminhão pipa, vem caminhão com bagaço de cana. Cada um custa uma vaca, que é vendida na tentativa de salvar as outras.
A esperança é que, mais um mês, um mês e meio, as trovoadas caiam para encher os atoleiros e ressuscitar a terra, espalhando o verde dos olhos de Rosinha nas plantações renascidas, na terra molhada, na esperança que mantém o homem na terra, até quando parece que não dá mais.
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