É quarta-feira
Bom dia. É quarta-feira. Quarta-feira de cinzas, mais ou menos dez horas da manhã.
A vida recomeça na hora do almoço, mas, tudo bem, já está de pé, de bem com a vida, pronto para o que der e vier, sem medo e sem saudade. O carnaval foi bom. Passou, tudo bem, a vida segue.
É chutar de bico que o jogo é de taça, não dá para parar, nem lembrar ou não lembrar o carnaval que passou.
Foi bom, foi muito bom, conheceu gente, se esqueceu, abraçou, beijou, foi em frente porque no carnaval é assim mesmo. O negócio é conhecer gente, encontrar gente, interagir com gente, beber, beber, mas parar antes de cair. Curtir cada momento, cada abraço, cada música, a mão estendida, o olhar quente e amigo, o beijo e o depois, todos os depois possíveis, que sempre acontecem quando é hora de acontecer.
O ano passado foi um desastre. Ele se lembra da quarta-feira de cinzas do ano passado. Acordou deitado num banco de jardim, sem documento, sem dinheiro, sem saber o que tinha acontecido, com gosto de corrimão de metrô na boca e uma dor de cabeça de quebrar iceberg para fechar o drama.
Saiu andando, fantasiado de pirata, ridículo, na rua que voltava à rotina de todos os dias. Chegou em casa a pé, depois de caminhar um tempão. Teve que fazer B.O. e, depois de sacar dinheiro, pegar um taxi para procurar o carro esquecido num lugar mais ou menos conhecido.
Este ano, não. Este ano deu tudo certo. Brincou, pulou, dançou, namorou, fez e desfez, mas sempre lúcido, ou muito perto disso.
Agora está acordado, tomando café da manhã, de banho tomado, barba feita, vestido para trabalhar, alegre, feliz da vida porque o carnaval foi muito bom. Meu Deus, como foi bom!
Voltar à listagem