Demagogia pura
A Prefeitura informou que vai plantar uma árvore para cada morte a menos no trânsito da cidade. Seria uma medida louvável, se não estivesse impregnada da mais escancarada demagogia.
Em primeiro lugar, a Prefeitura não tem o menor interesse no verde da cidade, tanto que abandonou os viveiros municipais, inclusive o Manequinho Lopes, no Parque do Ibirapuera.
Pra quem acha que isso não é nada, a proposta do Plano Diretor ataca violentamente os bairros com áreas verdes, como os Jardins América, Europa, Paulista e Paulistano, Pacaembu e City Butantã.
Como se não bastasse, a estatística apresentada diz respeito a um período de crise aguda, com a diminuição dos carros. E foi feita pela CET, que já foi pega adulterando o número de motoqueiros mortos por dia na cidade por uma pesquisa séria, feita pela Universidade de São Paulo.
Quer dizer, entre mortos e feridos, a falta de confiabilidade é a marca registrada que pauta a informação e dá suporte pra demagogia.
Demagogia que se estende para o fato da promessa falar em cento e tantas árvores, número muito menor do que o total de árvores que caem ou morrem todos os anos por falta de cuidados da Prefeitura.
Mais curiosa é a escolha do local em que as árvores serão plantadas. Em vez de escolher a zona leste, carente de verde, elas serão plantadas na Chácara do Jockey, que já tem verde, mas dá visibilidade.
O que a Prefeitura quer é aparecer bonita na foto, nem que para isso tenha que distorcer a foto inteira. A cidade está suja, esburacada, mal tratada, não tem creches, o serviço de saúde é uma vergonha e a queda das mortes tem muito mais a ver com a crise do que com as velocidades, mas o legal é plantar cem árvores – não onde não tem verde, mas na Chácara do Jockey, que é uma área cheia de árvores.
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