Cinco tios importantes 2
Eu não gosto de nhoque. Aliás, aprimorei a construção com a descoberta fascinante de que nhoque não existe. O responsável por isso foi meu tio Ruy. Nunca esqueci o dia em que, meninos, meus primos e eu estávamos almoçando no pátio da fazenda e ele passou por nós, nos viu comendo nhoque e perguntou como comíamos aquilo. Nunca mais comi nhoque e, com o tempo, descobri que nhoque não existe.
Mas tio Ruy foi muito mais. Em Cananeia, no seu barco, o Albardon, na fazenda, em São Paulo, sempre, tio Ruy esteve próximo de mim em todos os momentos, como na minha posse na Academia Paulista de Letras e quando me convidou para a pequena festa de seu aniversário de 80 anos.
Tio Lula foi provavelmente o homem mais forte que eu conheci. Com quase dois metros de altura e bem mais de cem quilos, ele era uma figura imponente. O que ele tinha de força, tinha de inteligência e cultura. E tinha mais ainda em ternura, carinho, delicadeza e amizade. As lembranças vão de um Citroen preto, com jeito de carro de gangster, ao seu sítio em Juquitiba. Foi lá que comecei a namorar minha mulher. Conversar com tio Lula era uma aula, além de ser muito, mas muito gostoso.
Tio Roberto me apresentou São Paulo, me levou conhecer a cidade, me contou os detalhes de sua história, fez eu me apaixonar por ela. Homem de uma integridade absoluta, foi com ele que aprendi que é possível ser honesto na vida pública. E foi graças a ele que fui morar na Alemanha, uma experiência inesquecível e fundamental para a minha vida.
A vida é uma aventura dura e complicada, onde o barranco, a sombra e a água fresca são as exceções. Quem disser que passou por ela sem tomar porrada não percebeu o mundo, ou é mentiroso. Se tivermos sorte, vamos em frente com gente que gosta da gente, que tem carinho. Meu pai, estes tios, meu tio-avô Alfredo e meus amigos, entre eles o poeta Paulo Bomfim.
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