Chuvas de março
As chuvas de março são famosas. Já viraram música de Tom Jobim, cantada por Elis Regina, e todos os anos são notícia de jornal, porque são elas, de verdade, que derrubam a casa.
As chuvas de março destroem, matam, derrubam, deslizam, inundam, alagam, enfim, fazem o diabo a quatro e não dá nem para dizer que é culpa da prefeitura que não gosta da cidade. Não é.
As chuvas de março são independentes, emancipadas e fazem só o que querem, do jeito que querem, na hora que querem. Não tem bom que mude a coisa. São atrevidas, mal-educadas e temperamentais. Caem quando querem, com a força que querem e aí não tem jeito – se estão inspiradas ou com raiva, sai da frente porque elas vêm com força e não tem santo que ajude.
São Paulo assistiu, impotente, a força e a violência das águas de março. Os semáforos apagados foram apenas um leve sinal do tamanho do estrago. Não passaram da entrada para confirmar o negócio.
Choveu como em filme de dilúvio e só não teve arca porque Noé não estava pelas nossas bandas.
Tietê e Pinheiros subiram muito e várias áreas mais baixas do que suas calhas foram inundadas, deixando centenas de pessoas fora de casa porque dentro tinha água.
É triste ver os estragos das chuvas. Casas desmoronadas, barrancos encharcados, deslizamentos de terra. Gente morta. Gente desesperada. Gente que perdeu tudo. Gente chorando. Gente sem entender o que aconteceu. Gente sem saber o que fazer ou para onde ir.
Não há força humana capaz de conter a natureza. O máximo que podemos fazer é rezar para os santos, fazer promessa, cruzar os dedos e torcer para passar longe. Faz parte da vida. É assim porque é assim.
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