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Crônicas & Artigos

em 19/09/14

Cheiro de maresia

por Antonio Penteado Mendonça

De repente o cheiro de maresia toma de assalto o carro. Ou será que não é o carro, mas tão somente minha memória olfativa, recordando outro momento, perto do mar?

Não, o cheiro de maresia é real. Não sei se tomou o carro ou se está apenas no meu nariz, mas ele é real. Real como o carro parado ao lado do meu, com o motorista desolado, olhando as árvores plantadas na beira do rio. Real como o cinza que toma conta do muro, numa extensão do céu, escurecido pela poluição.

O cheiro de maresia me faz lembram praias que não existem mais, ilhas desertas, barcos navegando na recordação de todos os mares. Lembra um tempo em que os robalos nadavam na foz do rio e nós mergulhávamos para pescá-los, nadando na água limpa que, um pouco mais pra frente, entrava no mar, seguindo por um canal cavado na areia que mudava constantemente de lugar, movido pelo humor das marés.

O cheiro de maresia me lembra coisas boas. Me faz esquecer por um momento o medo dos assaltos, a apreensão com a imprevisibilidade do motorista ao lado. O sem sentido de estar parado no trânsito, tendo que chegar em algum lugar porque o destino do homem é trabalhar para ganhar o pão nosso de cada dia.

O cheiro de maresia me faz lembrar uma praia no começo da tarde, uma cabana na beira da areia e a espera pelo aviso para almoçar peixe frito com arroz, feijão e mandioca, tomando uma cerveja gelada.

O cheiro de maresia traz lembranças boas. Quentes e próximas. Como você me esperando sentada no meio do sonho. Como você me esperando na estrada da vida. Como eu chegando de braços abertos, pronto pra te abraçar e dividir com você a possibilidade de todas as possibilidades, quando ser herói ainda era fácil.

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