Cada coisa é uma coisa
É assim porque é assim. Cada coisa é uma coisa. Elas não se confundem, por mais parecidas que sejam. No máximo, podem chegar perto, mas as consequências aqui são diferentes das consequências ali e assim por diante. Não há margem para erro, nem para disfarces destinados a ocultar a verdade.
A verdade é a verdade ainda que não seja a mesma para você, para ele ou para mim. Cada um vê as coisas com olhos próprios e, como cada um vê como quer, a verdade é diferente para cada um de nós.
Isso complica, mas não inviabiliza. O mundo sempre foi assim e nem por isso o movimento de rotação da terra inverteu seu curso. Simplesmente não toma conhecimento. Afinal, o ser humano é insignificante demais para ser levado a sério pelas forças cósmicas que dão o ritmo do universo.
E se cada vida é única, cada evento também o é e suas consequências idem. Não há perdas iguais para duas pessoas. Ainda que os bens atingidos sejam semelhantes, não são os mesmos, por isso, cada vez que inunda um pedaço da cidade, as pessoas que perdem tudo têm em comum perderem tudo, mas a perda não é igual.
Cada vez que o Jardim Pantanal inunda é diferente de cada vez que o Jardim Ângela inunda. Da mesma forma que as águas que se espalham no Embu e fecham a Regis Bitencourt se espalham de outro jeito, diferente das águas que inundam as favelas na beira dos trilhos de trem.
Capricho, mania, castigo? Não, ocupação irregular de áreas de risco, conhecidas desde os tempos coloniais, quando as várzeas não podiam ser ocupadas por causa das inundações.
Chove de forma uniforme, de forma espaçada, de forma inconstante; mais forte, mais fraca, a água cai do céu, toma de assalto ruas, casas e os olhos tristes das pessoas que tem em comum perderem o que tinham.
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