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Crônicas & Artigos

em 08/10/18

Briga de foice no escuro

Tem quem ache que a vida das plantas é fácil, que é florir, esperar todo mundo dizer OH! e tocar em frente, sem outra preocupação que gerar os frutos e espalhar as sementes para garantir uma improvável reprodução.

Não, não é assim que as coisas giram. É mais complexo e mais embaixo. Vale tudo, até dedo nos olhos, desde que a minha florada seja mais bela do que a sua.

É olhar como as coisas acontecem para não se ter dúvida de que a vida das plantas é uma guerra tão dura quanto a nossa. Cada uma quer ser a mais bela e faz o que pode e o que não pode, começando por florir fora de hora e chamar a atenção do jurado mais rigoroso que existe: o cidadão que passa, vê e se maravilha.

É o grande momento dos ipês, mas não imagine que eles agem sem ciúme ou inveja. Cada um puxa a brasa para sua sardinha, aproveita cada detalhe para levar vantagem em cima dos outros.

E a pancadaria começa desde pequeno. Veja a quantidade de ipezinhos balançando meia dúzia de florezinhas amarelas em seus braços que são muito mais gravetos do que galhos.

Mas a briga não é só entre os ipês. Não, tem árvore e planta de tudo que é jeito e tipo disputando o pedaço, querendo se mostrar e receber os aplausos da plateia.

Que o diga um guapuruvu que arrancou sabe Deus de onde um florada deslumbrante para enfeitar a passarela Arrancada Heroica – Palmeiras 1942, na Água Branca, em frente ao Shopping Center.

Guapuruvu florido é raro de se ver. Até porque são poucas árvores espalhadas pela cidade. Esse está lindo, disputa o primeiro lugar com qualquer ipê, por mais pretensioso que seja. O bom é que nessa briga de foice no escuro quem ganha somos nós.

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