As violetas pedem passagem
A correria da vida, às vezes, nos faz deixar de ver o mundo em volta. Os vários universos que giram ao nosso redor, independentes um dos outros, como a dança das galáxias, onde, em tese, elas fazem mais ou menos o que querem, regidas por uma força maior que dá liga ao cosmos.
No cenário de terra arrasada em que vão transformando o mundo, as coisas pequenas ficam escondidas, como se tivessem vergonha dos massacres na Síria, dos afogados no Mediterrâneo, dos milhares de brasileiros assassinados de todas as formas, mas a maioria pelo trânsito.
No entanto, elas estão aí, presentes, importantes, com seu peso específico, que muitas vezes se baseia na lição de moral.
Como duvidar que as rosas são maravilhosas? Como discutir com uma orquídea florida? Como não olhar os flamboyants nesta época do ano?
Mas será que são mais belos que as pequenas flores do campo que sozinhas não são percebidas, mas juntas formam um buquê de sonho?
Como não prestar atenção no vaso de violetas colocado na janela da cozinha ou ao lado da imagem de São Francisco, em cima da geladeira?
Como não se comover com a ternura e a delicadeza das violetas? Como não entender que cada coisa é uma coisa e que as violetas são tão belas e tão importantes quanto as orquídeas e as rosas?
Só aceitando isso é possível acreditar nos milagres que acontecem diariamente e fazem o mundo mais bonito, não porque enfeitam o céu ou iluminam as pontes, mas porque permitem que gente comum toque em frente com um sorriso no lugar do rito da dor.
A importância das violetas está na delicadeza e na cor densa de suas pétalas, na capacidade de enfrentar as dificuldades e sobreviver mais um dia. Um dia depois do outro, como fazem milhões de pessoas que tocam em frente sem ter como e que, ao fazê-lo, dão sentido à vida.
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