As fotos largadas no chão
Fotos existem, entre outras coisas, para guardar para sempre a lembrança de momentos especiais. Festas, jantares, casamentos, batizados, noivados, aniversários, namoros, gente que um dia vai passar, mas que merece ficar. Ou quase. Será?
A casa para vender estava aberta ao público. Não que 1% da população pudesse comprá-la, mas a placa “vende-se” era um convite para quem quisesse ver a amplidão da casa de um milionário.
Vazios, sem mobília, cortinas ou pessoas, os enormes cômodos não permitiam uma imagem de como seria quando a casa funcionava.
Quando pessoas moravam nela e a vida seguia rotinas que faziam a vida ter sentido. O pai indo trabalhar; os filhos indo pra escola; a mãe acordando mais tarde; as empregadas na correria para manter tudo como a patroa gostava; o motorista à disposição para o que desse e viesse; o jardineiro cuidando da parte de fora, mantendo o jardim, lavando a piscina…
As salas vazias se sucedem, mas não há como não reconhecer a grande sala de jantar, dando para o jardim lateral. Como seria a decoração, a mesa, as cadeiras, o aparador? Como seriam as louças e os talheres? Como diria um velho tio, a alfaia?
A visita prossegue, subindo pela escadaria de mármore. Imponente, grandiosa, para impressionar quem visse a dona da casa descendo vestida para uma festa.
Em cima os apartamentos. Cinco. Um, o do casal, enorme. Três grandes e um menor, mas com a janela dando para o jardim do fundo.
O único lugar em que tinha vida era nele. No chão, centenas de fotos espalhadas ou em velhos álbuns contando a história da família. O pai, a mãe, os filhos. As festas. Quem se importa? Ninguém quis as lembranças. Às vezes é melhor esquecer o passado. Danem–se as fotos.
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