As azaleias
Já houve época em que a florada das azaleias praticamente parava a cidade. Era uma explosão tão fantástica que o roxo e o rosa de suas flores entravam nas mentes das pessoas, varando pelos olhos, tomando conta de todos os sentidos, como uma bomba atômica explodindo ao longe, tingindo o céu e antecipando o anoitecer.
As azaleias chegavam e todo mundo sabia que elas estavam aí, que o momento era delas e que não tinha outra planta para quebrar a magia de suas flores.
Não me perguntem por quê, mas as azaleias costumavam ser plantadas encostadas nos muros. Isso fazia que eles mudassem de cor, deixando o verde das unhas de gato, tinto pelo roxo/rosa das azaleias, muito mais alegre do que nas outras épocas do ano.
A festa era delas. Quantas crônicas cantaram em prosa a chegada da florada das azaleias! Ninguém podia com elas. Os ipês sabiam disso. Por isso, entre uma florada e outra, deixavam um espaço em aberto. Era o sinal para as azaleias entrarem com tudo, sem ninguém atrapalhar ninguém.
Pra quê uma comparação indelicada? Seu momento é seu e o meu é meu. Os ipês entravam em cena com os roxos na frente, depois davam um tempo, as azaleias mostravam para o que vinham e os ipês amarelos, em seguida, ocupavam o espaço.
Tudo concatenado, medido, ensaiado. Ninguém furava a fila, ninguém chegava antes ou depois. Claro que sempre teve meia dúzia de insatisfeitos, mas não eram suficientes para quebrar a ordem.
Agora isso tudo mudou. As azaleias perderam espaço. Não são mais tão poderosas. Mas, mesmo assim, onde estão floridas, chamam a atenção. Nesses jardins, o momento ainda é delas.
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