A hora das quaresmeiras
Tanto faz as chuvas de verão, os deslizamentos dos morros, as enchentes dos rios, os alagamentos porque as bocas de lobo estão sujas. Tanto faz todos os “tantos fazem”, agora é a hora delas e com elas não tem brincadeira, não tem deixar pra depois, não tem não ocupar todos os espaços.
As quaresmeiras estão aí com toda a riqueza dos tons de suas flores, com a fartura das flores enfeitando a cidade, dando vida pra cidade, quebrando o cinza triste que insiste em ser parte da paisagem da cidade.
A rua sem vida, com elas, se enche de vida. O cinza do muro, encoberto pelas flores que tomam as árvores e mudam as perspectivas da cidade, deixa de ser cinza. Promete alegria.
São Paulo agora é delas. Nada, nem ninguém, tem o poder de quebrar o encantamento, de desfazer a magia. Tanto faz o que o governo federal pense, o que o governo estadual pretenda, o que a prefeitura não faz. Ou vice-versa. É a mesma coisa.
O momento é das quaresmeiras. E ele se estende cidade a fora, em busca das matas da serra, de onde elas vieram pra mudar o ritmo da vida, na florada anual que faz São Paulo outra cidade, pelo menos pra quem tem tempo pra ver as flores criando sonho onde antes havia pesadelo.
As quaresmeiras sabem que com elas ninguém pode. Nem os ipês, que no inverno tentam competir.
A razão é simples: tem mais quaresmeira do que ipê, então elas levam vantagem. E usam essa vantagem para passar a ideia de que sem elas a vida fica mais triste.
É verdade, a vida pode ficar muito triste. Numa cidade como São Paulo, todos têm que ter isso claro. É preciso espantar a tristeza da vida. As quaresmeiras com certeza fazem sua parte e dão o exemplo.
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