A festa da camélia
Os ipês vieram esplendorosos. Se a florada dos ipês roxos é um sinal do que ainda vem pela frente, teremos um ano de sonho no mundo das flores. Afinal, ainda faltam os ipês amarelos, os rosas e os brancos.
Sonho necessário para esconder o feio e o bruto que nos cercam, para esconder a corrupção que enluta o Brasil e a incompetência, que é muito mais cruel.
Para esconder o descaso com que nos tratam, apesar de cobrarem impostos escorchantes para custear uma máquina que o brasileiro não quer mais pagar porque não acredita nela e sabe que não tem o que fazer. Se não se fizer nada, vai ficar pior.
Os ipês roxos vieram com a missão divina de reequilibrar a balança, mostrar que nem tudo é violência, estupidez e o mais que inferniza a vida. E fizeram como manda o figurino. Entraram de sola e a cidade se cobriu de roxo, nas avenidas congestionadas, nas praças malcuidadas, nos quintais e nas calçadas das ruas anônimas pelo descaso da CET no trato dos nomes.
Os ipês vieram para acabar com o lenga-lenga de algumas paineiras que achavam que tinham mais tempo do que tinham. Não tinham e ficaram encaixotadas entre os ipês, com suas flores ainda tentando mostrar a cara, mas com pouco sucesso, abafadas pelos cachos roxos dos ipês desenfreados.
No meio dessa orgia de cores e flores, uma camélia decidiu que era hora de florir e floriu.
Sacou meia dúzia de flores brancas e corajosamente se pôs a campo, como se não tivesse que enfrentar o mar de ipês deslumbrantes, espalhados por todos os cantos da cidade. A camélia floriu porque era seu dever florir. Tem horas na vida que tanto faz se vamos ganhar ou perder, o importante é fazer bem feito. Foi o que a camélia fez.
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