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Crônicas & Artigos

em 14/08/14

A cigarra e a formiga no século 21

por Antonio Penteado Mendonça

Era uma vez uma cigarra politicamente correta, trabalhadora e honesta, que acordava cedo todos os dias, sete dias por semana, pra pegar pesado no trampo e garantir o futuro. Tudo que ela ganhava investia em terrenos na Zona Leste. Já tinha se estrepado no passado, quando um presidente maluco e pouco honesto bloqueou sua poupança, por isso não acreditava em mercado financeiro e colocava seu dinheiro em terreninhos que ia comprando para fazer casas populares e garantir a velhice.

Era uma vez uma formiga boemia que acreditava que quem cedo madruga só acorda cedo. Por isso dormia tarde e acordava tarde, sem nunca dar as caras no trabalho do formigueiro. Foi expulsa de casa e só não morava na rua porque não gostava do clima e tinha um quarto com banheiro na casa da cigarra.

As duas eram muito amigas, mas durante a semana, pouco se viam, ainda que morando na mesma casa. Quando a cigarra saía para trabalhar, a formiga estava dormindo, quando voltava para casa, a formiga saíra para farrear.

Então o grande dia era o sábado. Sábado era sagrado. As duas saíam juntas na hora do almoço para beber um chopinho e jogar conversa fora com os amigos.

Chope depois de chope, a cigarra explicava a importância do trabalho e a formiga, invariavelmente com cara de ressaca e um cigarro na boca, cantava as minas em volta.

Até que veio a desgraça. Quando a vida corria no bem bom para a formiga, a cidade elegeu um prefeito com viés social. Um grupo de sem tetos invadiu os terrenos da cigarra e a indenização foi pra lista dos precatórios. Como credor não tem pena, sem os terrenos, ela e a formiga agora moram numa fresta do Minhocão.

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