A caçada dos machos
Um onço e um ariranho se encontraram na beira do rio. Fazia tempo que não se viam e, depois de muito papo e matarem a saudade, decidiram combinar uma caçada para o sábado seguinte.
O onço, conhecido gourmet, sugeriu que caçassem pacos. Na sua visão, ou melhor, para o seu paladar, não há no mundo carne melhor que carne de paco. Macia, nem gorda, nem magra, suave ao toque e à mordida, é um manjar de deixar o deus dos machos com água na boca.
Além disso, a caçada de paco é um esporte emocionante. Os pacos são ariscos, andam por carreiros conhecidos e fogem rapidamente a qualquer mero pressentimento de perigo.
Para o onço, caçada que é caçada é caçada de paco. Pela emoção da caçada e pelo banquete requintado logo depois. O ariranho de cara concordou. Caçada boa é caçada de paco. Afinal, ninguém é louco de discordar de um onço, mas, jeitoso, começou a levar a conversa para outro lado. Como quem não quer nada, começou a falar da beleza dos veadinhos mateiros, avançou para a carne branca de um tatu, divagou sobre os cotios, numa conversa mole, de quem está só conversando, com medo de irritar o onço.
Depois, com mais jeito ainda, deitou na areia da praia, olhou as águas do rio e soltou um: – Ah, como é bonito ver os capivaros nadando. Quanta fartura! E bicho meio bobo, quase que fácil de pegar, ainda mais para os onços e ariranhos, conhecidos nadadores.
O onço olhou o rio e viu do outro lado um bando de capivaros pastando na margem. Sua primeira reação foi entrar no rio e nadar até lá, mas – onço disciplinado e caçador contumaz – parou, olhou de novo, se virou para o ariranho e disse: – Taí, no sábado vamos caçar capivaros. É carne gorda, mas, pra variar um pouco, até que cai bem.
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