A decadência decadente
Nada é mais triste do que a decadência de uma região, de uma cidade, de um bairro, de famílias e pessoas.
A decadência traz em si o travo amargo de fim de festa, de não tem mais ou, se tem, é tão pobre que nem vale a pena perder tempo.
O Centro Velho é o melhor retrato da decadência na cidade. Até a década de 1980, suas ruas eram lotadas, milhões de pessoas passavam por elas todos os dias e as lojas de produtos populares viviam lotadas, dividindo espaço com algumas lojas sofisticadas, instaladas no pedaço para atender o pessoal do mercado financeiro, bancos, bolsa, corretoras e distribuidoras de valores.
Depois, a festa foi acabando. Em sua sede de novos espaços, a cidade migrou, foi para o sul e para o oeste, e o Centro Velho começou a perder a cor na paisagem urbana. Seus prédios foram se esvaziando, suas lojas cerrando as portas, os sanduíches que fizeram a fama da região deixaram de ser inventados, o Maranduba fechou, restaurantes como o Ouro Fino fecharam e por aí foi, numa descida rápida e vertiginosa, rumo ao vazio, ao sujo, ao pobre e maltratado.
As igrejas ainda estão lá, a maioria bem conservada, por fora e por dentro. Mas, tirando elas, os demais imóveis se deterioraram, se transformaram em cortiços, foram invadidos por movimentos sociais que visam o lucro, tirando grana dos novos moradores que se amontoam dentro deles.
Impávida, a Prefeitura que se diz do povo assiste a tudo do alto do mármore de sua sede, projetada e construída pelo arquiteto do fascismo, a convite de um grande empresário.
O triste, mas triste mesmo, é que à sua volta grassa o abandono, a sujeira e a miséria. São Paulo não merecia isso.
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