Violência, irresponsabilidade e falta de saúde pública
Originalmente publicado no jornal Sindseg SP
por Antonio Penteado Mendonça
De acordo com os últimos dados publicados pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, os homicídios caíram. De outro lado, os latrocínios subiram, assim como os roubos e furtos. Isso impacta a atividade seguradora?
Sim, muito. Nem poderia ser diferente. Num país onde morrem assassinadas 50 mil pessoas por ano, para as seguradoras é indiferente se, para a tipificação do crime, se trata de homicídio ou latrocínio. O fato incontestável e dramático é que 50 mil pessoas morrem assassinadas anualmente. Este dado tem impacto nas tarifas de seguros de vida e acidentes pessoais. E deve também ser levado em conta pelas operadoras de planos de saúde.
Nem poderia ser de outra forma. Este número é o dado mais a terrível daí ser o que aparece, mas se analisarmos o quadro veremos que ele é muito pior, na medida em que, onde há 50 mil assassinatos, costuma haver um número maior de tentativas, nas quais as vítimas saem feridas e invariavelmente inválidas. Estes eventos, ainda que não gerem indenizações nos seguros de vida, impactam os seguros de acidentes pessoais e os planos de saúde. Ou seja, a violência cobra um preço alto da sociedade, direta e indiretamente, por conta do preço do seguro ter que ser caro.
Mas a violência vai além. O aumento dos roubos e furtos, incluídos os de veículos, tem reflexo direto no seguro de automóveis e nos seguros de roubo em geral. Os seguros de roubo não são apenas caros, são difíceis de serem contratados. Com o aumento da incidência do delito, será ainda mais difícil e mais cara a sua contratação.
Mas há mais. Além dos assassinatos, o crime gera outro tipo de morte apavorante e que também vai aumentando de frequência. Os óbitos causados pelo consumo de drogas só não são a parte mais negra desta epidemia porque o vício em si é mais dramático e custa mais caro.
Os viciados custam verdadeiras fortunas para a sociedade. Custam pelo tratamento, pelo policiamento, pelas medidas sociais necessariamente adotadas para combater o vício e tratar os viciados.
Estes custos também impactam a atividade seguradora. De saída, com as indenizações pelas mortes, em complemento, com as despesas com tratamento e com as indenizações indiretamente geradas pelo tráfico de drogas, como os roubos e furtos.
Para quem acha que o quadro já é suficientemente dramático, há mais. Os acidentes de veículos deixam mais de 60 mil mortos todos os anos. E este número aumenta muito quando se coloca na conta os inválidos e os custos médico-hospitalares.
O primeiro a sofrer com a alta sinistralidade é o DPVAT, o seguro obrigatório que indeniza as vítimas dos acidentes com veículos.
Mas não é só ele quem paga a conta. Os seguros de vida e acidentes pessoais e os seguros de automóvel pagam verdadeiras fortunas todos os anos para fazer frente às indenizações. E os planos de saúde privados não ficam atrás.
Finalizando um quadro realmente preocupante, vale ainda citar a falência ou a falta de competência do governo na gestão da saúde pública. As imensas filas na porta dos hospitais e centros de saúde pública não deixam ninguém se enganar. A coisa vai mal e tende a ficar pior.
Mas não é só a deficiência dessa rede que custa caro. Não, a falta de saneamento básico, de apoio à gestante, de creches, de alimentação saudável nos primeiros dois anos de vida, as epidemias de hanseníase, dengue, febre amarela, tifo, gripe, etc., cobram um preço alto da sociedade e também das seguradoras.
Neste quadro deprimente não tem como uma série de seguros não serem diretamente impactados. Enquanto o país, seus governantes, legisladores e operadores do Judiciário não se convencerem de que não adianta fazer demagogia para inglês ver, a situação não muda.
E, sem a situação mudar, não tem mágica que faça os seguros custarem mais barato.
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