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Crônicas & Artigos

em 09/12/24

Violência e seguro

Originalmente publicado no O Estado de S. Paulo.
por Antonio Penteado Mendonça

A violência é hoje marca registrada brasileira. Temos violências de todos os tipos batendo recordes atrás de recordes. O último dado é o aumento dos latrocínios na cidade de São Paulo. Imagens dessa modalidade de crime chegam até nós com frequência, pelas câmeras de segurança instaladas nas ruas onde as mortes acontecem. Com base nelas fica claro que a vida humana atualmente vale muito pouco, fato reforçado pelas outras mortes violentas que engrossam as estatísticas.
Morte violenta não é só a morte decorrente de uma tentativa de assassinato, feminicídio, estupro etc. Ela compreende também as mortes no trânsito, onde o Brasil é campeão, com as mortes em acidentes com bicicletas e motos em alta, contribuindo para nos aproximarmos das 40 mil mortes por ano; e as mortes em decorrência de abortos clandestinos e outros procedimentos médico hospitalares ilegais; e as mortes em esportes radicais, praticados sem as condições mínimas de segurança ou treinamento.
Mas a violência causa outros tipos de danos, como invalidez permanente em diferentes graus. E a invalidez temporária que, além de deixar sequelas psicológicas, tem custos com o seu tratamento. Além disso, a violência causa danos materiais de todos os tipos, começando pelos acidentes de trânsito, que danificam os veículos envolvidos, até incêndios criminosos, que destroem uma empresa.
Também não tem como deixar de fora os danos causados pelas drogas e pelo tráfico de drogas, além de todas as outras modalidades do chamado “crime organizado”, responsável pelos jogos ilegais, tráfico de seres humano, tráfico de órgãos, contrabando e guerras entre as facções criminosas, que atingem principalmente inocentes que não têm nada com elas, mas pagam o preço das balas perdidas.
Seguro existe para garantir o patrimônio e a capacidade socioeconômica dos segurados. Ou seja, o negócio das seguradoras é aceitar riscos e repor as perdas cobertas. Quando se sabe que em São Paulo são roubados mais de 300 mil celulares por ano, fica fácil mostrar o custo da violência contra a sociedade. E o quadro fica mais claro quando se soma ao roubo dos celulares o furto e o roubo de veículos, o roubo de cargas e os assaltos nas ruas, residências e empresas, que acontecem diariamente em todo o país. Parte desses prejuízos é coberta por apólices de seguros, o que impacta diretamente o resultado das seguradoras e, consequentemente, aumenta o preço das apólices.
Mas além da violência da sociedade, temos ainda a violência do governo e a violência natural. A violência do governo pode ser vista principalmente na sua omissão frente às necessidades básicas da sociedade. Recursos insuficientes para a saúde pública, educação deficiente, falta de programas de assistência social, carência de saneamento básico, falta de segurança etc. A lista é longa e custa caro em vidas humanas e danos de todos os tipos. Finalmente, a violência dos eventos climáticos também cobra seu preço e ele tem aumentado ano a ano. Ainda que no Brasil o seguro não tenha grande capilaridade, essas perdas impactam as seguradoras e, mais uma vez, encarem as apólices e aumentam o “custo Brasil”.

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