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Crônicas & Artigos

em 03/06/22

Vai complicar mais

Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça

O mundo está entrando numa crise que pode se tornar das mais sérias deste século. A pandemia já vinha pressionando a economia global, com custos estimados em trilhões de reais, entre perdas diretas e indiretas, para não falar nos milhões de pessoas que perderam suas vidas por conta do covid19. O mais dramático é que a pandemia não acabou e, mesmo com parte da população mundial vacinada, ela é uma ameaça que pode voltar com intensidade a qualquer momento.

Mas, se já estava ruim, a guerra da Ucrânia piorou o quadro. Com a invasão russa o preço do petróleo passou a casa dos cem dólares o barril. Mas a situação vai além de uma crise de preço do petróleo. O mundo enfrenta uma crise de energia que pode ter desdobramentos seríssimos em vários países, com falta de combustíveis de todas as matrizes, entre eles o Brasil, ameaçado de ter uma redução significativa de diesel à sua disposição.

Para quem acha que está bom, tem mais e mais sério. A ameaça da fome é real para centenas de milhões de pessoas, especialmente as mais pobres, com ênfase na África, já que as nações mais ricas não perderão tempo e comprarão os estoques existentes, ainda que a preços muito mais caros.

Essa notícia poderia parecer boa para o Brasil. Afinal, o país é dos maiores produtores de alimentos do mundo. Acontece que se, de um lado, há o aumento do preço dos produtos agrícolas, de outro, há o aumento dos preços dos insumos para sua produção, além da carência dos produtos necessários para a fabricação de fertilizantes.

O cenário de se ficar o bicho come, se correr o bicho pega ainda tem mais uma agravante capaz de complicar mais o que já está muito complicado. A inflação está em níveis inéditos há décadas na maioria dos países desenvolvidos e a forma de combater seus efeitos e tentar controlá-la é aumentar os juros, o que tem como resultado a fuga de capitais dos países em desenvolvimento para serem aplicados especialmente nos Estados Unidos, para onde a remuneração e a segurança do dólar atrairá grande parte dos investidores.

Como se não bastasse, o Brasil está em ano eleitoral e, para ganhar as eleições, os candidatos estão dispostos a qualquer desatino, tanto faz as consequências futuras que venham a ter. O país atravessa uma crise seríssima, mas ela não é suficiente para conter a sanha eleitoreira que ameaça a estabilidade econômica da nação.

Num cenário de vale tudo perdem todos, mas o setor de seguros pode perder mais do que os outros. Em épocas conturbadas, o aumento da sinistralidade é uma consequência lógica, da mesma forma que o aumento das fraudes, o que agrava o quadro e compromete o resultado das seguradoras.

Com metade da população ganhando até um salário-mínimo, quarenta milhões de pessoas vulneráveis à fome, a inflação em alta, os orçamentos da saúde e da educação cortados e a fuga de capitais, temos tudo para viver tempos muito difíceis. Tempos capazes de comprometer o crescimento nacional e o desempenho de vários setores da economia.

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