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Crônicas & Artigos

em 14/03/14

Um ano curto

Originalmente publicado no jornal Sindseg SP, em 14/03/2014
por Antonio Penteado Mendonça

O ano começa de verdade agora. Depois do carnaval o Brasil inicia o processo de esquentar as turbinas e a economia dá os primeiros sinais concretos do ritmo do ano. Pelo que aconteceu no ano passado e em janeiro, as expectativas de crescimento são bastante modestas, com alguns importantes agentes diminuindo ainda mais um número que todos têm certeza de que será pequeno.

O dado mais sensível é o fraco desempenho do mercado de veículos zero quilômetros. Carro chefe da política de aumento do consumo praticada pelo governo para enfrentar a crise internacional de 2008, o setor teve um começo de ano bem abaixo do esperado, em complemento a um final de ano também decepcionante.

Outro dia ouvi de um dos mais importantes executivos do país que a única certeza sobre o ano de 2014 é que será melhor do que 2015. A casa está desarrumada, a lição de casa não será feita em ano eleitoral, a inflação para as famílias é completamente diferente da inflação oficial, os supermercados estão remarcando preços em períodos cada vez mais curtos, etc. Enfim, levando apenas estes dados em consideração, o cenário tem tudo para continuar se deteriorando.

A contrapartida é que teremos a Copa do Mundo de Futebol e, digam o que disserem, este evento deve movimentar bilhões de reais. Milhares de turistas virão para o país, a indústria do turismo deve trabalhar perto do limite e contratar os funcionários necessários para fazer frente à demanda.

Mais uma vez na contramão do otimismo, as obras de infraestrutura estão atrasadas, espera-se um movimento caótico nos aeroportos, ninguém sabe como os estádios se comportarão quando forem utilizados para valer, não há aferição séria sobre a mobilidade urbana necessária para levar e trazer os torcedores e, como se não bastasse, há o risco sério de manifestações populares violentas neste período.

É por isso tudo que, graças a Deus!, 2014 será um ano curto. Entre o carnaval e o início da Copa do Mundo são três meses. Depois, entre o final da Copa e as eleições são de novo apenas três meses. Aí já é novembro e o ano acabou. Não dá para acontecer tanta coisa num tempo tão curto. E isso deve ser visto como a salvação da pátria.
No ano em que o mundo retoma o crescimento, seriamente abalado pela crise de 2008, o Brasil ficará abaixo dos 2%, com certeza um dos piores indicadores entre as 20 nações mais ricas do planeta.

Se o ano fosse longo, o quadro poderia ser muito pior. Com a concentração dos negócios em poucos meses é possível que o estrago feito pelo governo não impacte tão violentamente a cadeia produtiva nacional.

Curiosamente, o setor de seguros caminha à margem do quadro pessimista. As seguradoras conseguiram reajustar o preço dos seguros de veículos e os juros altos são um reforço de peso para minimizar as indenizações, além de fazer da previdência privada e da capitalização segmentos interessantes como alternativas de investimento.

Mas só isso pode ser pouco para gerar o lucro necessário para dar suporte ao desenvolvimento consistente do setor. A volatilidade da economia tem impacto severo sobre o negócio. E a crise, evidente no número de imóveis para vender e alugar na cidade de São Paulo, pode, ainda por cima, aumentar o desemprego nos níveis médios e altos das empresas, comprometendo a capacidade de contratar seguros da classe média, justamente a camada responsável pelo momento otimista que atravessa o setor.

Se isso acontecer, o prognóstico de crescimento bem acima da média nacional pode não se confirmar, afetando o resultado de várias seguradoras que já em 2013 trabalharam com margens muito apertadas. Em época de crise não há como reajustar preços e aí, mais uma vez, a volatilidade terá impacto negativo sobre a atividade.

Graças a Deus, 2014 é um ano curto. No pouco espaço de tempo livre entre as datas acima elencadas é de se esperar uma certa acomodação e, se os anjos disserem amém, ninguém fará estripulia maior, poupando o país para o necessário acerto de contas a ser feito em 2015. Aí sim, a porca vai torcer o rabo.

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