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Crônicas & Artigos

em 06/06/14

Um alerta importante

Originalmente publicado no jornal Sindseg SP.
por Antonio Penteado Mendonça

O recente deslizamento de terra que soterrou uma vila e matou mais de duas mil pessoas no Afeganistão é um alerta importante para outro tipo de dano natural que não tem relação com o aumento da incidência dos eventos de origem climática.

Duas mil mortes e mais de quatro mil pessoas desabrigadas é tragédia em qualquer lugar do mundo, mas afeta mais as nações pobres, uma vez que sua capacidade de gerar recursos e destinar dinheiro para as obras de reconstrução e a realocação dos moradores é menor do que a de uma nação rica.

O Afeganistão sofre os horrores de uma das guerras mais cruéis em andamento na Terra. Com a recente catástrofe, as condições de vida no país sofrem mais uma deterioração, que a falta de recursos do governo não conseguirá minimizar. Ou seja, para que haja algum conforto, é necessária a intervenção internacional, especialmente dos Estados Unidos.

Mas o ponto que o artigo pretende abordar é outro: o aumento das catástrofes naturais sem origem climática. O deslizamento no Afeganistão chama a atenção pela quantidade de mortes, mas não custa lembrar que Chile, Japão, China e vários outros países têm sido atingidos por terremotos e deslizamentos de terra, muitas vezes sem relação com ocorrência de fortes chuvas.

Não faz muitos anos, a região de “L’Aquila”, na Itália, foi violentamente sacudida por um terremoto que praticamente destruiu a antiga cidade e seus arredores. O ponto comum com a tragédia afegã é que a região devastada pelo terremoto italiano, da mesma forma que a vila soterrada, praticamente não tinha seguro.

Isto traz à baila outra questão. A contratação de seguros, tida como rotina nos países mais desenvolvidos, mesmo neles não é tão comum quanto se pensa. Para confirmar o raciocínio basta tomar os danos causados pelo furacão Katrina e, depois, o que aconteceu há poucos anos na região de Nova Iorque, onde boa parte dos imóveis afetados não tinha cobertura para os riscos de danos causados pela água.

Se a notícia é boa para as seguradoras que, em função da não contratação de seguros, deixam de pagar indenizações vultosas, é um desastre para as populações afetadas. Sem a proteção do seguro os proprietários dos imóveis atingidos precisam sacar de suas poupanças o numerário para reconstruir o edifício e repor seu conteúdo. Ou seja, essas pessoas ficarão mais pobres, na medida em que são obrigadas a desviar dinheiro que poderia ser utilizado para outra finalidade para recuperar algo que já é delas.

A alternativa para a falta de seguros é a intervenção do poder público. Cabe aos governos, sempre, assumir o papel de líder no processo de atendimento imediato das vítimas. Não há como delegar esta tarefa, especialmente em eventos de grande magnitude, como o terremoto e o tsunami que atingiram o Japão, as chuvas que atingiram a região serrana do Rio de Janeiro ou o deslizamento que soterrou uma vila no Afeganistão.

Sem seguro para fazer frente aos danos, cabe ainda ao governo tomar as providências para minimizar os prejuízos da população, mas isso, mesmo nas nações desenvolvidas, é complicado e demora.

A única certeza dentro do quadro é que tanto os eventos de origem climática como os outros desastres naturais causarão cada vez mais danos. Ainda que não houvesse o aumento do número das ocorrências e a violência dos fenômenos, a concentração humana em áreas onde ocorrem é suficiente para elevar o total das perdas, tanto em vidas, como em patrimônio.

Não é segredo que as seguradoras não podem suportar integralmente estes riscos e que, em determinadas regiões, é impossível se contratar seguros contra eles. Mas isso não significa que elas não possam atuar com mais intensidade em países como o Brasil, onde este tipo de cobertura é praticamente inexistente, até em áreas de baixo potencial de dano.

Seria uma forma de proteger melhor a sociedade e ganhar dinheiro com isso. Vale não esquecer que o negócio de uma seguradora é pagar as indenizações das perdas sofridas pelos seus segurados. E que ela cobra para fazê-lo. E que uma aceitação de riscos bem feita quer dizer lucro no final do exercício.

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