Seguros – É hora de ter paciência
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
2016 foi um ano complicado. Tão complicado que é arriscado usar o verbo no passado. As coisas estão acontecendo numa rapidez impressionante e até 31 de dezembro dá para sair mais coelhos da cartola, o que não é lá muito bom.
A economia brasileira derreteu. Entre secos e molhados, a indústria automobilística perdeu mais de 40%. Autopeças foi na mesma toada. Máquinas e equipamentos também. A imprensa atravessa seu pior momento. Até os setores voltados ao agronegócio estão com desempenho muito abaixo do de um ano atrás.
O resultado disso é que se espera um desemprego na casa dos 14 milhões de pessoas até março, o que significa mais de 23 milhões de brasileiros fora do mercado de trabalho, por conta dos que já estavam desempregados e desistiram de procurar recolocação.
Ainda mais grave, depois da crise, milhões de postos de trabalho serão extintos, reduzindo a possibilidade de recolocação de milhões de pessoas profissionalmente capacitadas e que não terão como se recolocar.
É um cenário de terra arrasada. Muitos especialistas e altos executivos não acreditam em melhora antes de 2018 e, mesmo assim, em ritmo mais lento do que era esperado. Entre secos e molhados, o Brasil vai pagar muito caro pela incompetência e corrupção que grassou solta nas últimas duas décadas.
Pouquíssimos setores não perderam faturamento e lucro. Curiosamente, entre os que sofreram menos está o setor de seguros. É verdade que seus números precisam ser lidos com cautela, principalmente pelo forte peso da previdência complementar aberta nos resultados apresentados.
Seguro de automóveis teve um ano ruim e, no futuro médio, a situação não deve melhorar, em função das mudanças de hábito que vão sendo detectadas e apontam para um cenário completamente diferente do que se viu nos últimos cem anos. Desde o começo do século 20, o automóvel foi o carro chefe da economia, inclusive puxando o setor de petróleo.
As pessoas não veem mais o carro como diferencial de riqueza ou de bem estar. Pelo contrário, agora a ordem é compartilhamento, Uber, transportes de massa e transportes alternativos, o que deve impactar bastante, não só a geografia urbana, mas também o setor de seguros, que tem na carteira de veículos um dos principais vetores de faturamento.
De outro lado, o Brasil é sub segurado em praticamente todos os ramos de seguros. De seguros de pessoas a seguros patrimoniais, de seguros de responsabilidade a seguros financeiros, há um universo a ser preenchido e atendido.
Se, de um lado, pode-se dizer que estamos vivendo o encerramento de um ciclo, de outro, estamos inaugurando outro, tão ou mais rico do que o ciclo que se encerra.
As seguradoras terão que ultrapassar a crise e depois se reinventar. Não tem como garantir que todas as companhias conseguirão fazer isso, não só no Brasil, mas no mundo. É uma missão que exige competência, profissionalismo e planejamento. É tarefa para executivos e colaboradores treinados e focados. Mas, bem feita, é uma tarefa que tem tudo para ser altamente prazerosa e lucrativa. Quem acertar a mão e conseguir ocupar os espaços que se abrirão será bem recompensado.
O problema é chegar lá. Aguentar a travessia da tempestade. Navegar em mar de altas ondas e com neblina é para profissionais. Até agora, não se viu nenhuma grande quebra no setor de seguros. E, ainda que 2016 e 2017 sejam anos difíceis e com baixo retorno, não se espera nenhum estouro extraordinário ou fora de controle.
Não adianta imaginar que é possível mudar o curso no curto prazo. Não tem como, na medida em que a economia vai mal e sofre com os estragos na política. Então, é se preparar para mais um ano duro, consolidar parcerias, desenvolver novos produtos sintonizados com o novo tempo e tocar em frente, com cautela e foco. Afinal, o Brasil é maior do que a crise.
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