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Crônicas & Artigos

em 01/07/24

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come

Originalmente publicado no O Estado de S. Paulo.
por Antonio Penteado Mendonça

O Rio Grande do Sul foi palco de três enchentes do segundo semestre de 2023 até agora. As tempestades gaúchas se transformaram na maior catástrofe ambiental brasileira. Antes delas, o estado havia sofrido uma forte estiagem, que transformou o rio Uruguai num riacho escorrendo entre as pedras. A agricultura gaúcha foi severamente afetada, com impacto negativo no resultado do seguro rural, depois de alguns anos de resultados positivos, que haviam animado o setor de seguros e feito com que várias companhias entrassem no negócio.
São Paulo viu as chuvas fazerem as encostas dos morros de São Sebastião virem abaixo e, quase que concomitantemente, viu parte de seu fértil interior sofrer com secas devastadoras, que trouxeram para a região central do estado clima de deserto.
A região amazônica migrou de uma cheia acima da média para uma seca muito acima da média. Depois, ela deu lugar a um período mais normal de chuvas, mas agora a seca ameaça retornar, trazida pelos efeitos da “La Niña”, que substitui o fenômeno do “El Niño”, nas águas do Oceano Pacífico.
Escondido pelos enormes danos que se abateram sobre o Rio Grande do Sul, o Recife sofre com cheias que transformam suas ruas em verdadeiros braços dos dois rios que cortam a cidade.
E o Pantanal, uma das regiões mais bonitas do país e com flora e fauna das mais ricas do mundo, é palco de enormes incêndios, que destroem milhares de hectares de vegetação nativa, completamente fora do controle das equipes encarregadas de combatê-los. Como o quadro se agrava dia a dia, a certeza dos incêndios deste ano ultrapassarem a destruição causada pelos incêndios de 2020 já aconteceu.
De outro lado, o litoral, que vem sendo regularmente maltratado pela ação humana, assiste a ressacas muito mais violentas do que as tradicionais e o mar avançar sobre várias regiões, engolindo praias, dunas, ruas e casas e ameaçando causar danos muito maiores, inclusive a grandes cidades litorâneas, se a temperatura subir apenas meio grau célsius.
Ou seja, os efeitos das mudanças climáticas caíram sobre o Brasil com tudo. Não há como dizer que não é bem assim. Os eventos e os prejuízos decorrentes deles estão aí, cobrando seu preço de uma sociedade completamente despreparada para enfrentar o novo cenário. Ou o país passa a encarar as novas ameaças com a seriedade necessária ou os estragos atingirão dimensões inimagináveis, com danos de todas as ordens atingindo pessoas e bens, cada vez com mais violência.
Entre as organizações mais preparadas para enfrentar o aquecimento global, as seguradoras têm se destacado pelos estudos de todas as naturezas, feitos ao redor do planeta, para levantar o potencial de danos a que estamos sujeitos. Seria interessante o governo brasileiro acordar para o que está acontecendo e para o tamanho da ameaça à sua frente. A demora e os erros na ação no Pantanal mostram que ainda não há uma percepção clara do tamanho dos riscos. Mas não há mais tempo para adiamentos ou promessas. É preciso começar a trabalhar imediatamente. As seguradoras seriam parceiras preciosas para, dentro do possível, ajudar a minimizar os danos.

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