Representatividade para enfrentar a crise
Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo.
por Antonio Penteado Mendonça
As seguradoras acabam de eleger as diretorias da CNSeg, das federações e dos sindicatos que compõem o seu sistema representativo. As eleições foram com chapas únicas, o que mostra a união das empresas quando se trata de investir no grande, no jogo político do qual todo setor econômico participa, querendo ou não, com mais ou menos expressão, em função da representação e participação na economia.
Tradicionalmente, as seguradoras e as outras empresas que compõem o segmento agem em conjunto quando se trata de eleger seus representantes. Nada de novo, nem estranho num universo que congrega um número relativamente pequeno de associados. Com os bancos não é diferente.
Mas esta união não significa que cada parte envolvida não tenha posições firmes e que elas não precisem ser acomodadas, dentro de acordos destinados a definirem a cara da entidade e suas posições políticas, para assim darem força ao todo.
Em 2015 o setor de seguros perdeu um de seus mais importantes quadros: o então presidente da CNSeg, Marco Antonio Rossi, que também era presidente da Bradesco Seguros, a maior seguradora do país.
Rossi se foi num acidente trágico e que não poderia acontecer, quando voltava de uma reunião em Brasília, no jato da diretoria do Banco Bradesco. Sua morte teve um impacto fortíssimo. Ao longo de sua carreira, ele cresceu como líder, articulador e negociador das posições do setor de seguros, tanto junto ao Governo, como à inciativa privada. Assim, sua falta, mesmo o mercado sabendo que ele não se candidataria à reeleição, foi uma pedra a mais no caminho da atividade seguradora nacional, justamente quando o país está metido numa crise que se agrava a cada dia e para a qual não se vê solução de curto prazo.
A eleição de Márcio Coreolano para presidente da CNSeg foi a consequência natural da intenção de Marco Antonio Rossi se afastar da direção da entidade, e foi também a melhor escolha para substituir o grande líder que partiu prematuramente.
Márcio Coreolano tem um currículo rico, tanto no Governo, como no setor privado. Foi diretor da SUSEP e é presidente da Bradesco Saúde. Essa experiência é fundamental para a atividade. Mas é, acima de tudo, seu temperamento calmo, mas firme, e sua capacidade de negociação que farão a verdadeira diferença neste momento da história brasileira.
Na vida existem horas em que se dá pancada, horas em que se leva pancada e horas em que se conversa, porque é a melhor solução para enfrentar problemas de difícil solução. Nós estamos neste momento. É hora de conversar, articular, negociar e tentar tirar o Brasil da queda livre em que se encontra. Neste momento, ninguém sabe como fazer isso.
Mas os nomes que foram eleitos pelas seguradoras, para representar o setor em seus diferentes níveis, garantem pelo menos a capacidade indispensável para contribuírem para a busca das soluções capazes de evitar o aprofundamento radical da crise.
Seguro é atividade de apoio. Não desbrava novos mercados, nem tem função de aríete. Ao contrário, da mesma forma que a artilharia, que fica na retaguarda das tropas e garante o fogo necessário para o suporte dos ataques, o setor garante os recursos e a proteção necessária para que a indústria e o comércio trabalhem em condições competitivas, gerando o aquecimento da economia, novos empregos e melhores padrões de vida.
Ninguém espera que 2016 seja fácil, como ninguém espera que 2017 seja fácil. Serão anos complicados e complexos, onde a capacidade de negociar será colocada à prova todos os dias.
Hoje é impossível prever como o Brasil sairá da crise. Tem até quem coloque que ele pode não sair, estendendo o período de vacas magras para os próximos dez anos.
Mas se não temos como saber o futuro, temos como confiar em quem está no comando do barco. Parafraseando o Almirante Nelson, “a pátria espera que cada um cumpra o seu dever”. Os nomes eleitos pelas seguradoras, pelas personalidades, competências e carreiras, estão entre os melhores com que o país pode contar. Neste momento, isto é muito.
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