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Crônicas & Artigos

em 10/01/22

Planos de saúde a curva é mais aberta

Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo.
por Antonio Penteado Mendonça

Tem gente que acha que o bom é entrar nas curvas fechadas no limite, cantando pneus, e, se a estrada for de terra, melhor ainda! O carro sai de lado e tem que mostrar perícia, segurando a derrapada no acelerador e na direção.

O problema é que invariavelmente a aventura acaba mal, o carro bate ou capota e as consequências podem ser ruins. A regra vale para quase tudo na vida. Inclusive o comportamento socioeconômico e as escapadas que acontecem e que não dependem da gente. É preciso ver o quadro no longo prazo, nas curvas abertas em que o carro não derrapa, cujo final está além da nossa visão e que, por isso mesmo, pode ter outras consequências, antes da estrada acabar.

No mundo inteiro, político gosta de fazer demagogia com o bolso do outro ou com o dinheiro do governo. A regra não é brasileira, mas aqui usam e abusam dela, ultrapassando todos os limites. Se tiverem cinco minutos de visibilidade imediata, dane-se o resto. Estouram a boca do balão, mesmo sabendo que, no final, quem paga a conta é o povo.

A vida não acontece em 24 horas. Ela se estende no tempo como um rio que atravessa planícies e zonas montanhosas, em curso lento e tranquilo, seguido de outro encachoeirado. Depois de cada curva, surge um novo cenário, uma planície onde ele se espalha ou uma garganta onde passa apertado. Se chove, o rio segue de um jeito, se não chove, segue de outro, todos únicos porque as águas não voltam, nem correm da mesma maneira.

Os planos de saúde, ao longo de 2020, tiveram um comportamento atípico. Por causa da pandemia do coronavírus, milhões de procedimentos não ligados ao vírus foram adiados, o que resultou em menos pagamentos feitos pelas operadoras e, consequentemente, resultados positivos nos balanços.

O processo se estendeu pelo primeiro semestre de 2021, mas mudou logo em seguida. Os exames, consultas e cirurgias que estavam represados foram marcados, aumentando significativamente a quantidade de procedimentos a serem pagos, já que os do ano seguiram a rotina.

Ou seja, o resultado positivo de 2020 foi rapidamente substituído pelo aumento generalizado das despesas, que comeu o lucro de várias operadoras e que promete balanços bem mais medíocres em 2021.

Ao determinar aumentos bastante questionáveis, levando em conta os resultados de curto prazo, com base nos números de 2020, a ANS cometeu um equívoco que pode ter consequências desastrosas, principalmente, para os segurados de planos mais afetados pela mudança de cenário ou menos capitalizados. A volta do bumerangue pode atingir com força um sistema que está longe de ser uma máquina de gerar lucros espantosos e que está, em muitos casos, com preços abaixo dos necessários para dar conta de pagar concomitantemente os procedimentos represados e os procedimentos atuais.

Como se não bastasse, além deles, a pandemia do covid19 não acabou e novas cepas do vírus se espalham pelo mundo, enquanto, no Brasil, além delas, uma epidemia de gripe também cobra seu preço.

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