Peter Purm
Originalmente publicado no jornal Sindseg SP, em 21/02/2014
por Antonio Penteado Mendonça
A morte chega sempre, tanto faz se nos escondemos ou não. Começamos a morrer no dia em que nascemos. Quanto tempo teremos sobre a terra não nos compete saber. De qualquer forma, por mais longa que uma vida seja, ela é menos que um grão de pó perdido nas areias do tempo. Por isso a humildade deveria ser inerente a todos os seres humanos. Na ordem geral das coisas somos absolutamente insignificantes, uma bactéria ou um vírus no corpo de um gigante.
A morte chega de manhã cedo, no telefone tocando para dar a triste notícia da morte de um ente querido. Chega na leitura do jornal, estampando o nome do amigo falecido. No telejornal do começo da noite dando conta de mais uma tragédia. Chega no assalto, na bala perdida, na facada. Chega no acidente de trânsito. Na doença irrecorrível. No sono de quem morre em paz com Deus e simplesmente não acorda na manhã seguinte.
Tanto faz como ou quando, como escreveu o grande Guimarães Rosa, todos temos nossa vez e nossa hora. E ela chega.
Acabo de voltar do almoço e dou com o e-mail do Clube da Bolinha informando a morte de Peter Purm.
Meu querido amigo de tantos anos, companheiro de jornada desde outro tempo, quando o mercado segurador representava menos de 1% do PIB e as pessoas se conheciam porque era realmente pequeno.
Conheci o Peter quando ele era diretor de uma das principais corretoras de seguros em operação no Brasil. Enérgico, firme, mas delicado com as pessoas, com idade quase para ser meu pai, rapidamente nos tornamos amigos e criamos um respeito mútuo e uma admiração que atravessaram as décadas, sempre firme, sempre leal.
Peter Purm não era apenas o diretor da grande corretora, ele conhecia profundamente o mercado em que atuava e os produtos existentes e oferecidos. Também conhecia a matéria tão bem que, por mais de uma vez, foi o responsável por avanços importantes no desenho das coberturas brasileiras e na melhora da proteção do segurado.
Não tenho certeza de quantas décadas assistiram o Peter Purm ser um profissional diferenciado, ético, transparente e íntegro, atuando num setor econômico pouco conhecido do grande público e por isso mesmo baseado na confiança.
Peter Purm transmitia confiança. Seus olhos olhavam os olhos de seus interlocutores e garantiam que o que ele falava era verdade.
Numa atividade representada por um contrato, onde o segurado paga na frente para, eventualmente, receber depois, baseado em promessas apostas no contrato, confiança é mais que uma necessidade, é fundamental para permitir o desenvolvimento de relações complexas como são as relações empresariais e a segurança pessoal.
Mas se o Peter foi um grande profissional, que até recentemente se informava sobre o setor e jamais perdeu contato com os avanços e mudanças das últimas décadas, ele foi também um homem de família. Com toda a imensa dimensão que esse termo comporta.
Quem sou eu, pequeno advogado, para julgar por que alguém é grande ou não, ou qual a maior qualidade de uma pessoa. Cada um é cada um. Não existem dois seres humanos iguais. O Peter com certeza tinha qualidades e defeitos, como qualquer um de nós.
Mas com certeza suas qualidades eram muito maiores que os defeitos. E isso fazia toda a diferença.
Homem correto, justo, lúcido, com experiência da vida, Peter Purm tinha sempre um olhar benevolente tentando resgatar o lado bom das pessoas.
Mesmo afastado da rotina do setor de seguros, ele participava, na medida de suas forças, até os dias de hoje, dos jantares do Clube da Bolinha.
Algum tempo atrás ele sofreu uma queda grave e o acidente fez com que ele, após a recuperação, tivesse algumas limitações. Ainda assim ele fazia questão de comparecer aos jantares da última terça feira de cada mês para rever os amigos e bater papo com quem ele gostava.
Homens como Peter Purm não nascem todos os dias. Se o Brasil tivesse entre seus filhos alguns milhares de cidadãos com as suas qualidades seria uma nação melhor e mais justa.
Descanse em paz, Peter Purm. Você fez por merecer.