O seguro de transporte de cargas custa caro
Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo.
por Antonio Penteado Mendonça
Faz muitos anos que os seguros de transporte de carga têm um desempenho no mínimo questionável, razão pela qual várias seguradoras preferem não operar no ramo. Tradicionalmente, a maioria dos eventos acontecem num raio de cem quilômetros dos grandes centros urbanos, notadamente São Paulo e Rio de Janeiro. E a principal causa do acionamento do seguro são os furtos e roubos.
Claro que também acontecem acidentes com os veículos e isso volta e meia resulta na perda da carga, quer porque cai na estrada, quer porque é saqueada, quer porque, em função do produto, se deteriora antes de poder ser salva. Mas os acidentes não representam o grande problema do seguro. O que efetivamente afeta seu resultado são os roubos e furtos, principalmente aqueles em que o caminhão é levado, depois do sequestro do motorista.
Faz pouco tempo, conversando com um delegado que atua na repressão ao roubo de carga, fiquei sabendo que o número de casos na Grande São Paulo sofreu uma redução importante, mas que, de outro lado, os assaltos na Baixada Santista cresceram muito, comprometendo o resultado final, que segue com altos prejuízos, o que, naturalmente, encarece o seguro e, consequentemente, o preço final do produto.
A lista dos produtos mais visados é a mesma, faz muito tempo. Há variações no ranking, mas, basicamente, os bens mais roubados são medicamentos, eletrônicos, bebidas, cigarros, alimentos, químicos, pneus, eletrodomésticos e mais três ou quatro que entram e saem da lista, dependendo da época do ano.
O processo é rápido. O veículo com a carga é interceptado, rapidamente desviado e levado para um local onde a mercadoria é transferida para outros veículos menores, que, em seguida, saem com os produtos já com destino certo. A rede de receptação é altamente sofisticada e o que é roubado some praticamente sem deixar rastro.
Dadas as características da malha viária brasileira e do movimento de caminhões, principalmente em torno das grandes cidades, o combate a esse tipo de crime é complexo e complicado. Em primeiro lugar, exige um sofisticado serviço de inteligência e, em segundo lugar, a ação rápida da polícia para interceptar o caminhão antes da carga ser desembarcada para ser distribuída.
Para tentar minimizar a possibilidade dos assaltos, as seguradoras tomam e exigem que os proprietários das cargas e os transportadores também adotem uma série de medidas de proteção, que vão do cadastro dos motoristas ao uso de sofisticados equipamentos de localização durante toda a viagem e alarme, em caso de assalto ou outra intercorrência que ameace a operação de transporte.
Mesmo com essas medidas e com a maior eficiência da polícia, os roubos seguem em patamares elevados e isso assusta várias seguradoras, que fazem a conta e chegam à conclusão de que não vale a pena entrar num campo extremamente específico, para o qual terão que montar equipes especializadas, além de adotar procedimentos que também não são baratos. “Para quê investir no desconhecido e no complicado, se tem seguro em que ganhar dinheiro é mais fácil?”
Entre secos e molhados, não é de se esperar grandes mudanças no quadro, pelo menos no curto prazo. Quem está nesse ramo deve continuar, quem não está dificilmente entrará.